Os amantes da cena eletrônica já viram muitas intervenções terapêuticas sendo inseridas nos festivais eletrônicos, por todos os lados, desde o High bpm, até mesmo na cena techno, onde O Surreal Park já trouxe yoga e cerimônias de cacau em um dos espaços da última edição do Festival Youniverse. Essas propostas de vivências e interações dinâmicas são parte de um movimento que visa trazer um propósito maior para a potente energia que se gera da união de pessoas celebrando, dançando e vibrando altas energias em eventos de música eletrônica. Os elementos das músicas, os estímulos visuais, de iluminação, e ambientação que favorecem um estado alterado de consciência, abrem as portas da percepção para outros níveis dos sentidos.
Técnicas de alteração de consciência eram aplicadas por povos ancestrais ao redor do globo, desde milênios em cerimônias espirituais, por acreditarem dissolver as barreiras sutis entre os mundos, possibilitando a comunicação com os seus guias espirituais e ancestrais mortos. O que as batidas repetitivas das músicas eletrônicas reproduzem, junto com os estímulos e união de pessoas, são também rituais que abrem portais, porém isso se dá em meio ao uso de álcool e cigarros, dentre outras substâncias, e de maneira inconsciente, o que pode levar muitas vezes algumas pessoas às chamadas bad trips. O que também, por outro lado, levou muitas dessas pessoas a pesquisar mais a fundo essas experiências e as levou para o movimento dos que podemos chamar, adeptos das medicinas da floresta e curandeiros contemporâneos.
Essa é uma realidade que estamos vendo todos os dias entre nossos parceiros de pista, todos os dias alguém tem uma experiência com alguma terapia holística, ou cerimônia para comentar, e isso adentrou a cena eletrônica como uma onda justamente porque assim como a cena eletrônica, nasceu de um propósito contracultura e revolucionário, ambos nascem para quebrar paradigmas, preconceitos e todo tipo de segregação que exista no mundo, ou seja, os propósitos se atraem. E desta forma, nasce agora, um novo conceito de festas eletrônicas, as Festas Conscientes.
As festas conscientes nascem das vontades das pessoas que já passaram por sua fase de curtição regada a álcool, e passaram a questionar tudo que colocam para dentro de seus corpos, uma vez que se tornaram mais conscientes. Isso também engloba o alimento que é oferecido nessas festas, sempre com opções veganas para aqueles que foram tirando tudo que não fazia mais sentido, ou sentiam fazer mal, além de também manter o corpo leve para integrar as experiências que compõem o evento. O lixo mínimo, também é uma preocupação desses eventos, estimula se que cada um traga seu copo, ou use um retornável, ou use se os biodegradáveis.
Nesse tipo de evento, as áreas de cura e de dança uniram-se. As músicas de meditação e contemplação, se unem aos ritmos eletrônicos, e tudo se integra para criar a experiência, e o evento é desenhado por terapeutas e artistas de maneira a conduzir a expansão ou trabalho pelos elementos, ou chakras. Uma vez que a festa vai canalizar as energias reverberadas para um propósito em comum, pode se citar a cura do planeta como a principal, cada atividade proposta terá esse intuito no individual, até atingir o coletivo em grupo. Práticas como yoga, sound healing, ativações meditativas, e outras serão sempre parte desses projetos por trazer a consciência para o corpo e estimular o estado de presença, ou mindfulness, importante para o processo. A programação vai rolar durante o dia, e as danças chegam a noite, abrindo a pista para a celebração mais parecida com o velho jeito de celebrar, mas ainda com plena consciência, e sem o uso de substâncias sintéticas ou tóxicas.
Os ritmos que embalam as pistas conscientes são Ecstatic dance, que surge junto com as cerimônias de cacao, além de vertentes de chill, etno deep, down tempo, folktronica, organic house, tribal chill, entre outras que estão também em constante evolução produzidas por artistas desses eventos. Mais recentemente estão acelerando os bpms, e algumas já estão muito parecidas com eletro house, e techno. Outros Djs que já aderiram ao movimento de músicas conscientes foram Ekanta, no seu último albúm Vozes, trouxe a temática indigena dos povos que guardam as medicinas da floresta, Alok já anunciou que o futuro é ancestral, e até Vintage culture na faixa manifesto. Uma diversidade de ritmos que trazem em comum os instrumentos ancestrais de diversas etnias, em referência ao resgate das celebrações cerimoniais que estão sendo recriadas.
Uma confusão que pode acontecer sobre esses eventos, é de que sejam algum tipo de culto religioso, por envolver práticas espirituais e referências nas músicas. Mas a realidade é que espiritual é diferente de religioso. O público desses eventos se “espiritualizou”, ou seja, encontrou alguma forma de se conectar com o divino, e isso pode ou não ter sido por meio de uma religião, mas a festa em si, não tem relação nenhuma com alguma religião, mas sim com uma espiritualidade universalista, que cita todas e utiliza símbolos de todas as filosofias e religiões que falem sobre amor, união e respeito. O intuito é justamente dissolver tudo que separa, e resgatar tudo que reúne os humanos.
O local desses eventos serão geralmente espaços holísticos que já sediam retiros, e outros eventos com temática terapêutica. Lugares integrados a paisagens naturais, domos geodésicos, decks ao ar livre, hotéis e pousadas. Um cenário que remete as festas Raves, porem com mais sofisticação e conforto. Geralmente serão anunciadas com nomes como Ecstatic Dance, Cacao Dance, ou palavras que fazem alusão aos temas relacionados.
No Brasil, um nome que tem se destacado nessa cena é Eleva agora, o evento da DJ e Mentora Carolina cor, que já trouxe djs de Ecstatic Internacionais como Mushina e Mose, em sua última turnê passou por 3 estados, nas cidades de São Paulo, Florianópolis e Itacaré.
Em Santa Catarina, dentre os núcleos que representam a cena das festas conscientes, se destacam Micro2macro e Manifesta5d, e da junção desses núcleos está nascendo o G.A.I.A X. No sábado dia 29 de julho, Micro2macro realiza o Festival Theobroma no espaço mágico Aviva. O evento trará oficinas, talks sobre cogumelos mágicos, 2 ambientes e djs, além de pinturas corporais. As festas conscientes chegaram para ficar, e você vai ouvir cada vez mais falar delas, até o dia que chegar a uma. Elas marcam um novo tempo que chegou, uma nova era que traz consigo novos paradigmas, novas formas de viver, de existir, de celebrar e de ser. Estamos vivendo a história, escrevendo através dos nossos amores, novos valores. Registrando com nossos corpos, novos passos de dança. Inspirando com nossas dúvidas, novas gerações de questionadores e criadores de novas realidades. Nós, os rebeldes, os desajustados, os pinos redondos nos buracos quadrados, as ovelhas “negras”, os loucos. Talvez porque somente os loucos o suficiente para acreditar que podem mudar o mundo, são os que mudam.