Pedra Branca Chill Out, por Luciano Sallun

O grupo Pedra Branca atua desde em 2001 com suas sonoridades e pesquisas, integrando a música étnica tradicional com a brasileira, junto a vertentes da música urbana, cosmopolita e contemporânea como jazz, trip hop, dub, global beats, downtempo executados com identidade própria. Nessa apresentação tocarão musicas do último álbum DNA (2014), do quarto álbum Radio Global (2011), do terceiro álbum Organismo Eletrônico, do segundo álbum “Feijoada Polifônica (2006), bem como músicas inéditas.  Ao vivo trabalham com conceito de fusão de banda com o eletrônico programado e executado como arranjo das composições.

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Além da música o grupo atua desde seu início freqüentemente com danças e performances interagindo diretamente com os conceitos e expressões artísticas, além de Vj’s e linguagens artísticas variada, podendo-se assim dizer que uma apresentação completa do grupo já deixa de ser apenas uma apresentação musical e sim um espetáculo multimídia.

Sallun conversou conosco no dia da sua apresentação em Florianópolis, e você confere abaixo.

Como vocês definiriam o som do Pedra Branca?

Esta é uma pergunta bem difícil, porque na realidade a gente busca exatamente não ter uma definição. Não que seja uma questão radical nossa de não querer ser rotulado com algum estilo, mas para nós o próprio conceito da arte como um todo é de não estar vinculada a estilos. Isto vem depois da criação. Nós temos influências de várias coisas, mas não nos fechamos em nenhuma.

Mas se tivesse que definir de alguma forma, seria como um grupo de World Music, algo bem abrangente mesmo.

 

Em relação à evolução da banda, desde que ela foi criada até o último álbum… Você percebe alguma mudança no conceito?

Outra pergunta complicada de se responder, pelo próprio conceito da arte e do que nós buscamos. A música como arte em sí, já  tem que buscar sempre a mudança, a evolução. Cada álbum tem uma característica, e também é natural a mudança do que estamos fazendo porque estamos vivendo sempre novas experiências na vida, e tudo de alguma forma reflete na música que você faz.

Além disso tem a própria maturidade! Inclusive quando eu escuto o primeiro álbum eu acho um álbum até de certa forma imaturo perto dos últimos. Também tem a questão da estrutura de produção que você possui. A banda no estágio que está hoje possui muito mais recurso em termos de tecnologia e instrumentos para fazer algo sempre melhor.

Tem alguma mensagem que vocês tentam passar com a música do Pedra Branca?

Uma mensagem subjetiva! A ideia de arte para mim não tem como obrigação de que ela deva passar uma mensagem específica – política ou ideológica, por exemplo. Isto é algo muito ultrapassado no meu ponto de vista.

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Fonte: Site Oficial Pedra Branca

Vejo a arte e a música, neste quesito, como algo que deve transmitir sensações, dar espaço para quem ouvir, criar. Conseguir abrir um novo canal criativo e de sensações para as pessoas. Se a pessoa ouvir a música e entender que ela passou uma mensagem, mais espiritual – que é até o que muitos falam, ótimo. Mas não é este nosso objetivo primário.

Quais suas principais influências e inspirações?

Temos muita influência, como todo músico, mas nada muito específico. As influências também vão mudando muito com o tempo, com o que você está aspirando, sentindo e fazendo. Nós vamos sempre criando outras influências…

No primeiro álbum, por exemplo, não temos nada com referência de Jazz, que já é algo mais presente nos últimos. Não porque na época não tínhamos este tipo de influência, mas ela não casava com o que estávamos construindo. Vai muito no que está fluindo e que você está tendo tesão de fazer naquele momento.

Tem também muito a questão da pesquisa e gosto musical próprio, não se fecha em um estilo – ou só chillout, ou só dub, ou só música indiana, brasileira, downbeat, trip hop. A influência é muito ampla!

No começo do grupo tivemos uma influência muito interessante, que era do Codona, que tinha inclusive o Nana Vasconcelos como percursionista neste projeto nos anos 60. Eles tem o fato de ter um sitar na banda, que tem essa fusão do jazz, com world music, que o Pedra Branca se influencia como conceito, de um world music universal. E eles faziam isso naquela época, totalmente analógica, e foi uma grande influência para nós, de ter outros instrumentos misturados, um som sem definição, universal.

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Como são as possibilidades das versões da banda do Pedra Branca, pois já vi diversas formações. O que dita isso?

Isso depende muito do orçamento e espaço disponível. Começamos como um trio, depois começamos a complementar, e em 2009 começamos a tocar com bateria e baixo, o que mudou bastante e aproximou com o que estávamos verdadeiramente buscando.

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Fonte: Fanpage Pedra Branca

Hoje o nosso show mais pocket tem 5 integrantes – que é o que acabamos fazendo mais pela questão de orçamento e tamanho – e o completo que seria com 6 integrantes, que é o necessário para tocar na integridade o som dos 2 últimos álbuns.

Também tem a questão das dançarinas, que complementam os shows mais completos, mais performáticos, e estamos explorando novas possibilidades. Elas trabalham dialogando totalmente com o conceito do grupo. Tem muita gente que procura a gente para expor a dança, mas para funcionar tem que ser uma dançarina completa, não de um estilo específico como normalmente acontece. Elas tem que ter capacidade de transpor na dança o som do Pedra Branca, sem estilos prontos.

A gente conhece muito o Pedra Branca dos festivais de trance, mas o quanto o movimento trance compõe o portfolio de locais que vocês se apresentam? Quais as grandes outras frentes?

O que eu sempre achei mais incrível do nosso som é a possibilidade de não estarmos presos exatamente a uma cena. São muitas de possibilidades de casar nossa música com diversos tipos de movimento.

Inclusive, essa ideia de CENA é uma das coisas mais caretas que existem. A coisa deveria ser uma erupção de arte, muito mais do que nichos. Mas vejo que na atualidade o mundo já é mais assim, pois nos anos 80 era tudo muito segmentado. O que eu acho interessante é poder tocar em várias cenas.

Quando a gente começou, inclusive, demorou para nos apresentarmos no mundo eletrônico. Tocamos muito em locais de rock, espaços culturais, feiras mix, projetos do SESC, programas de TV voltados à cultura… Depois começou a vir as festas, mas até hoje é muito balanceado. Tem fases de mais voltados para festivais.

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Você curte os ambientes dos festivais como um todo ou é algo muito mais profissional mesmo?

Gosto sim, mas ficar e curtir efetivamente depende muito dos compromissos que temos.

O que vale pra mim é quando a festa tem um clima bom, com pessoal astral! Outro ponto que me encanta é quando realmente o chillout funciona como um chillout, e não um local onde toca coisas nada a ver com chillout, porque isto acontece muito! Me dá um desgosto grande, e parece que estou num barzinho e dá vontade de ir embora.

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Fonte: Fanpage Pedra Branca

E sobre os festivais no Brasil e no Mundo? Qual sua leitura das diferenças e quais considera os melhores?

O Boom Festival é uma referência de que não tem como ter igual. A estrutura, programação, o contexto como um todo, é uma grande inspiração. Serve muito para influenciar os festivais do Brasil a entenderem a cena trance como uma explosão multicultural, não só aquela festinha pra galera às vezes tá acostumada a ver.

No Brasil, qualquer evento que respire esta ideia de ter outros espaços, que não só a pista, e uma galera legal, pra mim tá valendo… Não tenho um preferido. Mas ultimamente, dos que fui, gostei muito do Kundalini Festival! Senti que tem uma cena mais “fina”, muito legal de ver.

O Universo Paralello, logicamente, também é especial demais. Quero tocar no Pulsar, porque o pessoal anda falando muito bem. Tem também o Ecologic de Vitória/SC, Mundo de Oz, que buscam esta cultura psicodélica mais fina.

Qual as grandes diferenças entre o Trance no Brasil e no resto do mundo?

Lá na gringa você concentra muito pessoas de todos os lugares do mundo nos eventos. É muito difícil comparar isso com o movimento que temos aqui, que é bem mais regional. Quando se tem algo de âmbito regional, você não vai ter ali toda aquela troca, aquelas pessoas com o mesmo propósito… Vai ter muita gente perdida mesmo.

Até por isso o papel dos festivais regionais de hoje, é estar muito antenado com o propósito e a cultura em si, e não só com a pista pra galera bombar – que tem que ter – mas que desvirtua o movimento. Se só termos isto, muita gente que vai estar ali não vai entender o porquê daquilo, vai ficar muito no superficial, e vai tirar conclusões erradas.

Quais os principais desafios hoje para viver de música?

Fazer um som que não é comercial e conseguir criar público. Isso nunca acaba, até pra quem já está estabelecido.

Sobre você Sallun, quais são seus outros projetos?

Tenho atuado muito como DJ mesmo, em chillouts de festas e lounges de espaços alternativos.

Tenho também outro projeto chamado GEM, de criação de instrumentos musicais. Possuímos instalações em que os músicos podem experimentar diversos tipos de instrumentos diferentes, como por exemplo um violino de lata, tambor de PVC, coisas neste sentido.

Também produzo minhas músicas próprias e estou trabalhando em outros projetos mais na linha do downbeat, dub, mas é só música eletrônica, sem instrumentos acústicos.

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Fonte: Site Oficial Pedra Branca

Sempre foi músico ou já atuou em alguma outra frente?

Sempre! Aprendi a tocar piano com a minha mãe, quando criança. Nesta época eu queria fazer qualquer coisa, menos tocar piano, e logo parei. Com 11/12 anos comecei a tocar violão/guitarra. Fiz faculdade de musicoterapia, onde trabalhei um pouco na área junto à crianças especiais. Depois começou a fluir com o Pedra Branca e apostei as fichas ali.

Alguma religião, direcionamento filosófico, espiritual?

Não, longe disso. Para mim seguir alguma linha religiosa é muito distante da realidade, principalmente da forma que são as religiões hoje.

Mas gosto de filosofia, principalmente na linha da filosofia da diferença, representada muito por Deleuze, Guattari, Nietzsche , Spinoza… Falam bastante de arte, de outras possibilidades!