Carta Aberta à Comunidade Psicodélica: #EuVivoAPsicodelia

Olá, viajantes psicodélicos! Como vocês estão?

Escrevo esse texto de peito aberto na esperança de que essa mensagem chegue ao maior número de pessoas apaixonadas pelo PsyTrance possível. Acredito que vocês, assim como eu, também tenham momentos de extremo cansaço mental, medo, ansiedade e falta de perspectiva devido à pandemia e a todos os problemas que estamos enfrentando enquanto nação e humanidade. É difícil tentar procurar qualquer resquício de normalidade para tentar seguir com nossas obrigações diante de tantas notícias tristes e casos de morte, além de tamanha negligência do governo. Estamos cansados, buscando nos apegar às pequenas coisas para manter o mínimo de sanidade mental.

Se não bastasse, profissionais da cena eletrônica e de outras vertentes artísticas estão enfrentando um dos piores momentos para o setor cultural: produtores, DJs, artistas autônomos e todos aqueles que dependem, direta ou indiretamente, da movimentação cultural e artística sentem o peso da falta de trabalho em meio à uma realidade onde as dívidas e os preços de alimentos aumentam consideravelmente. São nesses momentos em que o Governo Federal e Estadual deveriam implementar medidas eficazes de políticas públicas que ajudem com o auxílio emergencial artistas autônomos, coletivos e produtores de eventos. Estamos à deriva.

Segundo o relatório da IMS Business Report 2020 (International Music Summit), o impacto financeiro previsto para casas noturnas e festivais para o ano de 2020 foi de 75%, em torno de 3.3 bilhões de dólares; para DJs e Produtores, a  pandemia implicaria na perda de 61% comparado aos valores de 2019, caindo de $1.1 bilhões para $0.4 bilhões. Levando em consideração os dados acima, o mercado da música eletrônica teria uma baixa de rendimento de 56% comparado ao ano de 2019, atingindo o valor de 4 bilhões de dólares.

A pandemia nos tirou as festas mas trouxe uma nova forma de nos mantermos conectados: ainda seguindo os dados da pesquisa, o isolamento social impulsionou o aumento significativo de encontros e eventos virtuais nas plataformas de Live streamings, pressionando redes sociais como Soundcloud, Mixcloud, Tik Tok, Instagram, entre outros, a se adaptarem aos novos tempos. Marcas como Coca- Cola, Amazon e Heineken patrocinaram eventos de grandes nomes como David Guetta e Kaskade, por exemplo.

Foi dentro do contexto pandêmico que comecei a escrever para o blog. A oportunidade me abriu portas para conhecer diferentes pessoas de diversos lugares do Brasil que estão totalmente conectadas com o propósito de revolucionar a arte visionária que é o psytrance, são artistas autônomos, pesquisadores e estudantes, produtores de eventos e produtores de conteúdo que estão em busca de ressignificar o universo da psicodelia e do psytrance através da era virtual.

É o caso do @PaposPsicodélicos, projeto idealizado por Lui Cavalcante (24) de Recife- PE, atualmente residindo em São Paulo. Cientista Social pela UFPE, multiartista, atuante no Coletivo BoiKOT e na crew da Floresta do Mago, um ritual pequeno e underground que acontece no Camping do Mago em Tamandaré. Lui realizou, nos dias 27 e 28 de março, o workshop com tema “Psytrance – uma chave para espiritualidade”. A vivência de dois dias abordou desde  o surgimento da contracultura até os estudos atuais relacionados ao uso de substâncias psicoativas e sua relação com a psique e espiritualidade, enfatizando as simbologias xamânicas encontradas no Psytrance. O encontro contou com aproximadamente 20 pessoas de regiões distintas do Brasil, que desde então estão se conectando, firmando parcerias e fomentando espaços de troca de conhecimento.

“Lui Cavalcante – @papospsicodélicos | Track: Technical Hitch – I Believe.”

O encontro rendeu a hashtag #EuVivoAPsicodelia ou #EuVivoIsso com o objetivo de “formar uma rede de rostos e pessoas que vivem e vibram a psicodelia”, segundo Lui. O projeto consiste em gravar um vídeo de no máximo 2 minutos contando um pouco da sua trajetória no universo Psytrance a fim de formar novos vínculos e aproximar pessoas através das tags.“Eu realmente acredito que quanto mais a gente resgatar essa essência primordial de viver, que é algo extremamente simples e gratuito, a gente consegue se fortalecer da nossa essência e de quem a gente veio pra ser.”, acrescenta Lui.

Por fim, é dentro desse contexto  que me veio a ideia de  escrever essa carta aberta. É hora de revolucionarmos a história da contracultura e da psicodelia. Somos seres plurais e juntos podemos pensar em novas alternativas para nos fortalecer enquanto artistas, produtores e fomentadores da cultura. A filosofia do P.L.U.R. nunca se fez tão necessária. O Universo do PsyTrance é um campo de estudo extremamente vasto para quem se interessa por ecologia, sociologia, antropologia, espiritualidade, saúde mental, terapias holísticas, políticas de drogas, etc. Tem espaço para todos. Somos muitos querendo produzir, revolucionar e pensar em ações para ajudar a cena psicodélica e todos aqueles que dependem desse universo pra sobreviver.

Continuem produzindo e consumindo arte, apoiem os artistas e produtores de conteúdo, façam contatos e expandam suas conexões, estejam abertos para novas trocas e parcerias. Também faço parte desse movimento, sigo escrevendo meus textos, firmando parceria e criando pontes entre as pessoas.

Lembrem-se:
“Fortalecer os irmãos que também estão nessa mesma jornada, e me fortalecer por saber que tem mais pessoas nessa jornada. E fazer o nosso sonho ser real, rumo à Nova Era”- Lui Cavalcante.

Minha contribuição ao movimento #EuVivoaPsicodelia #EuVivoIsso.
Track: Talamasca ft Raja Ram – Raj Against the Machine

Yan Fernando – @yanando
Relações Públicas e Articulador Cultural.