Como o PsytranceBR está trabalhando para fortalecer a cena psicodélica

Entrevistamos o Bruno Soares Martins, criador da SKOT e sócio do portal PsytranceBR, e Daniel Pellicano, criador do PsytranceDF e do PsytranceBR, para um papo aberto sobre as convicções e impactos que o portal criado por eles pretende para a cena trance.

Segue a entrevista:

A quanto tempo e como o Psytrance surgiu na vida de vocês?

Bruno : Já tinha ouvido falar em raves desde meus 13 anos de idade onde eu trabalhava, o encarregado da produção frequentava e me falava desse mundo, ele gosta muito de Techno! Em 2015, ouvi a gravação do Powermix do Tiësto no TMF Awards, onde ele toca ao vivo com um violinista, fiquei encantado. Nesse momento que percebi o potencial da música eletrônica e comecei a pesquisar mais, naquele mesmo ano ele tinha tocado no Planeta Atlântida e já vinha prestando mais atenção na música eletrônica desde então…
Um dia um dos meus amigos me deu um cd gravado com o álbum Eye To Eye do Astrix gravado em mp3, pirei! Fiquei impressionado com aquele estilo tão diferente de música e fui atrás de mais, encontrei Side Effect, Psysex, Infected Mushroom, GMS… Entre altos e baixos, posso garantir que fez muita diferença na minha trajetória.

Daniel: Ouvi o psytrance pela primeira vez em 2005 aqui em Brasília em uma festa onde tocou Astrix, Alien Project, Space Cat, Wrecked Machines dentre outros, foi amor a primeira vista, fiquei encantado com aquele estilo de som diferente que não tinha letra, apenas batidas constantes que nos levavam ao transe. Apartir dai comecei a frequentar outras festas comerciais que tocavam Raja Ram, Skimo, Rinkadink, Ace Ventura dentre outros. Em 2007 o núcleo da Vagalume Records fez uma festa aqui trazendo diversos artistas renomados como Allaby, Zen Mechanics, Logica, The First Stone, Burn in Noise, Flip Flop, The First Stone, Headroom, Rinkadink e Cosmotech. Depois de ouvir tanta música boa em um só lugar eu nunca mais parei de escutar o psytrance. Também em 2007 eu criei um site para divulgar as festas chamado www.psytrancedf.com. Em 2009 eu comecei a tocar set de full on, em 2010 eu comecei a produzir música psicodélica. Em 2015 eu lancei meu Live de Progressive Trance chamado Acura. O Trance Psicodélico mudou minha vida e isso é só o começo.

Qual a opinião de vocês sobre a cena no Brasil?

Está crescendo, vai crescer muito mais. O Brasil possui diversos fatores que beneficiam o crescimento do psytrance. Já somos uma país muito forte no turismo, temos belezas naturais incontáveis, um porte continental que atravessa quase metade da altura do planeta, todo tipo de paisagem para fazer eventos (cerrado, floresta, praia, cannyons, caverna, cachoeiras…) e os brasileiros têm um habilidade excepcional para transformar, adaptar e inovar na música, a Bossa Nova, o Choro e o Samba servem de exemplo para o que eu estou dizendo!

O mundo inteiro ama o Brasil, acho que só os brasileiros que não amam tanto assim, temos a faca e o queijo para nos tornar referência na cena, mas ainda temos muito a evoluir. Esse tipo de evolução que a gente foi buscar lá no Rio Music Conference esse ano, com a ajuda do DJ Fernando dos Santos (aka Digital X). A profissionalização de todos os setores que trabalham na “cena” é o impecílio que falta para que possamos transcender as nossas limitações atuais.

O que fez vocês mudarem de frequentadores de festas e festivais para prestadores de serviço do movimento psicodélico?

Acho que qualquer pessoa que frequente a cena a mais de 3 anos acaba buscando isso. Não basta mais apenas curtir os eventos, a gente quer participar, esse impulso de agregar e fortalecer é natural quando encontramos autenticidade em alguma iniciativa.

Como surgiu a ideia de abrir/começar o PsytranceBR?

Após 10 anos do site www.psytrancedf.com eu percebi que era a hora de sair da minha zona de conforto e avançar para algo que atinja mais pessoas, divulgar este estilo de música único e ajudar a cena do psytrance a crescer cada vez mais passou a ser um dos meus objetivos de vida. Em 2015 eu comecei a construção do Portal Psytrance BR e fiquei o ano inteiro cadastrando conteúdo no site até que em janeiro de 2016 e portal foi lançado. Em apenas 1 ano de site, já esta tendo 4 vezes mais visitas que o Psytrance DF, tudo isso graças ao empenho diário de propagar a cultura psicodélica e ajudar a todos que fazem parte desta família.

Qual mensagem vocês querem transmitir com esse projeto?

Enquanto a gente respirar, o psytrance não morre.

Quais tem sido os principais desafios que vocês enfrentam para continuar?

Nossa, preferem por ordem cronológica ou alfabética? (risos!)
Acho que num ambiente musical relativamente novo no mundo, da forma que é o psytrance, e com um preconceito muito grande vindo de diversas camadas da sociedade, toda iniciativa acaba se tornando um desafio. Quando se assume o trabalho de mídia, você está enfrentando os problemas diretamente, desmarginalizar a cena psytrance é uma batalha constante e que não será fácil de vencer essa guerra.

Como vocês imaginam o Portal no futuro? Tem intenção de viver dele?

Acreditamos que todo tipo de trabalho que seja bem feito e realmente agregue na sociedade acaba sendo reconhecido financeiramente em algum momento. A sociedade que a gente vive é assim, hoje. Temos muitos projetos para o portal e planejamento para se tornar uma referência mundial no fornecimento de conteúdo, não sei se viveremos disso, mas vamos garantir meios de que o trabalho se perpetue.

O que significaria na vida de vocês conseguir esse feito?

Sabe aquele alívio de contar os “perrengues” que passou no passado e o futuro mostrou que valeu a pena? Pois é, não tem preço.

Vocês ou o Portal tem algum direcionamento filosófico / religioso / político que valha ser mencionado aqui?

Vou citar uma declaração que o ator Pedro Cardoso fez na Jovem Pan em 2015.

“O fato do empresário (dono da empresa de mídia) ter o capital não dá a ele o monopólio da mensagem. (…) Escreve um editorial e diga o que pensa, mas dê voz a todo mundo.”
A informação é pública!

Acreditamos que a música tem o poder de transmitir sentimentos e assim transformar as atitudes das pessoas, o trance tem uma forte ligação com o espaço e o universo, consequentemente nos trazendo para mais próximo de Deus.

Tem alguma observação que gostariam de fazer?

Temos trabalhado muito para fazer o portal PsytranceBr se tornar uma experiência virtual para os amantes de psytrance, ainda tem muita coisa para surgir, vamos habilitar uma série de novidades e reviver alguns antigos costumes que foram se perdendo. Fiquem muito ligados porque ainda há muito o que fazer!