A música educa e modifica o comportamento das pessoas no ambiente…

Há pouco tempo fui a uma festa, que rolou de sexta a domingo no interior de São Paulo (ainda não consigo chamar todos os eventos de “festival”) pra ver um amigo tocar. Depois de uns meses sem frequentar o médio porte da cena, andando apenas pelas PVTs da vida, com um conteúdo energético menor e mais equilibrado, eu me deparei com o novo aspecto visual do trance psicodélico. Uma nova geração, uma sobreposição quase completa de espectadores, uma real e massiva “troca de pele”.

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Fotos por Marcio Cursino | página do fotógrafo |

É fato que a evolução é constante e tudo muda. O movimento cresce como um vírus que é transmitido geneticamente de “pai pra filho”, de “irmão pra irmão”, de “freak pra freak”. Muitos já não frequentam mais o “role” e deram espaço para os novos da linha de frente que prolifera a cada injeção de bem estar promovido pela serotonina, sem nenhuma hipocrisia. Mudam as pessoas, mudam os propósitos! Se lá no começo os descolados promoviam a dança, a comunhão e o amor, hoje boa parte dos malucos promove o ego, o preconceito e a intolerância.

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Fotos por Marcio Cursino | página do fotógrafo |

Alguns dias antes do evento o publico reclamava agressivamente na pagina do facebook a respeito do line up, que era constituído por brasileiros fortíssimos e fora compilado por gente que entende realmente de música psicodélica e acreditava veemente no propósito daquela sequência de artistas. Frustrados, alguns modistas atacavam com posts ofensivos dos mais diversos aos organizadores.

No começo da festa embarquei com a minha passagem pra uma viagem lisérgica intensa na qual cheguei às conclusões a que me refiro no titulo desse texto. E nessa situação a gente fica mais sensível à percepção da energia, né? A vibe de sexta era um emaranhado de euforia lúdica, densa e um tanto quanto excêntrica, extravagante. Há tempos venho observando em fóruns e comunidades virtuais um nível caótico de banalização à cultura. O ego vem se sobrepondo à música gravemente!

No psytrance de hoje as fotos de tatuagens, rostos e corpos bonitos, fama, conhecimento avançado sobre entorpecentes além de um apelo brutal ao sexualismo deliberado são explicitamente mais contemplados que o trabalho árduo dos nossos artistas que compõe boa música pra que todo o cenário aconteça. Afinal de contas, música é o combustível disso tudo não é?

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Fotos por Doraci Machado | página do fotógrafo |

De sexta pra sábado eu me senti em um grande grupo trance virtual, onde o comportamento era de vitrine. O clima era confuso e pesado e de manhã, pasmem, até uma briga aconteceu aos arredores da pista. Um indivíduo surtou rolando no chão e se jogando nos outros preocupando a todos. Muitas das pessoas procuravam apenas mais uma festa e buscavam um outro tipo de som, um som mais “fácil” porém, o que eles encontraram lá foi um propósito muito diferente.

Encontraram uma celebração com uma cenografia inédita e comprometida com a arte, belíssima! Um line up escolhido a dedo por quem entende de som, não tinha pra onde fugir! Era ali, daquele jeito! A música espontânea de artistas reais e apaixonados era a única opção pros personagens paraquedistas que fazem do movimento um reduto cheio de ignorância e fundamentado no status. Mas a música educa! A musica boa que transpira naturalmente dos poros dos que respiram arte é capaz de coisas incríveis, até de promover mudanças drásticas no comportamento das pessoas que a consomem em um ambiente.

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Fotos por Marcio Cursino | página do fotógrafo |

E foi o que eu notei. Uma grande transformação de sábado pra domingo, na marra, forçada! Se não vai por bem, vai por bem! A festa era outra na manhã seguinte e a dança era o intuito das pessoas naquele dia. O clima, a vibe, a energia, chamem como quiser, foi filtrada pela principal peça desse quebra cabeça, a música!

É uma engrenagem, o ego contamina a todos e até quem trabalha por arte, passa a trabalhar por fama (que é diferente de sucesso), a única remuneração de uma cena doente.

A música educa!