Este texto tem o tamanho da nossa admiração pelo Pulsar Festival. Nele, a equipe do Trance e Cultura Psicodélica vai compartilhar em detalhes a experiência única e enriquecedora de ser parte dessa história.
Ao longo das próximas linhas você vai encontrar uma história com começo, meio e fim, sobre como honrar a psicodelia e criar um dos movimentos underground mais conceituais do Brasil e do mundo.
Ipoema
O distrito de Ipoema poderia ter passado para a história como outro um vilarejo pacato próximo a uma bela cachoeira, se não tivesse sido descoberto nas expedições aventureiras do Trance, sempre motivadas pela procura de um novo solo sagrado.
Chegamos na segunda-feira 17 de Junho, restavam dois dias até a abertura do portão e a chegada dos Pulsantes. O clima no povoado era de expectativa e profunda ansiedade. Animados, os habitantes de Ipoema recebiam os primeiros convocados calorosamente e não paravam de puxar assunto.
Pergunta vai, pergunta vem, a galera vai tomando consciência da essência do Trance e das peregrinações que são feitas para chegar até Ipoema. Essas historias parecem ser a suas favoritas! Assim que percebi que isso lhes causava surpresa, comecei a ser eu quem fazia questão de mencionar que tinha nascido há mais de 2600 km dali. Só para ver o sorriso incrédulo 🙂
Embora o Pulsar represente uma fortíssima movimentação na economia local dos seus 2.746 habitantes, é inevitável se perguntar como o Trance está sendo visto e absorbvido por lá, especialmente quando você percebe a influência histórica da religião em Ipoema. Antigo eixo da Estrada Real, as simbologias cristãs estão espalhadas pelo distrito até o topo do Morro Redondo (que é, de fato, uma igreja, e uma das mais altas do país, a Capela do Senhor Bomfim).
Nesse contexto, conversamos com alguns ipoemenses sobre o assunto. É importante ter em mente que a maioria nunca entrou no festival. A ideia do que é o Trance vem sendo construída a partir do contato e trocas com a produção e os Pulsantes.
Nesse sentido, o Luiz Figueiredo, proprietário da Pousada Venda De Cima , que vem recebendo há anos parte da Família Pulsar e hospedou a gente na primeira noite, nos assegurou que o festival é o melhor momento do ano para Ipoema. Entre elogios ao bom caráter da produção e à vibe dos Pulsantes, pontuou que atrelava o crescimento de seu negócio ao sucesso do festival.
“Sempre vai ter um ou outro que ainda não gosta ou não entende…Mas a verdade é que desde que eles chegaram, Ipoema só cresceu. Antes aqui não tinha nada! Hoje em dia tem várias pessoas alugando quartos e pousadas antes, durante e depois do festival, seja para conhecer o resto das cachoeiras ou para descansar. Cada vez mais o pessoal da região é chamado para prestar serviço lá na fazenda do evento (…), então todo mundo começou a valorizar a importância do Pulsar para a gente” – opinava Luiz, enquanto nos servia um completíssimo café da manhã ao estilo mineiro.
Por acaso, terminamos dividindo a mesa com uma senhora que resultou ser a mãe da diretora executiva do Pulsar. Para Dona Hilda, a chave está no trabalho de formiga que a crew vem fazendo no local, se focando em ações sociais que signifiquem uma melhora real para a comunidade de Ipoema, como por exemplo, levando atendimento odontológico para as crianças.
Todo mundo que já organizou, tentou organizar ou e teve contato com pessoas que organizam eventos de Trance na cena underground, sabe que o Trance é muito mais sobre amor e utopias, que sobre dinheiro (não se deixe enganar pelos/as haters das redes, inimigos do Excel, que nunca produziram nem o próprio aniversário). Por isso gosto de ouvir a história de como a psicodelia mudou a vida de cada um.
Observando a cara afável da Dona Hilda, você já suspeita que ela tem algo haver com o alicerce desse sonho piscodélico. Perguntei então para ela, se enxergando à distância as voltas da vida, fazia sentido ser a mãe da produtora de um dos festivais de Trance mais importantes do país. Ela sorriu e com doçura nos contou sobre como a sua filha tinha crescido vendo ela organizar eventos com viés social, e como ela tinha se esforçado por inspirar esse amor pelos outros, que hoje se materializava no Pulsar. Afinal, todas as coisas estão interconectadas.
Acabando o café, dei um olhada nos resultados da pesquisa sobre Energia Feminina e Masculina no Trance, que iriamos apresentar com a Karla Amadei (do Madre Terra Festival, Ceará) alguns dias depois, na Área de Cura, e a gente se despediu deles, agradecidos pelo acolhimento e a conversa inspiradora.
<< Aproveita tudo, faz o tempo passar devagar >> falei para mim mesma, enquanto pegávamos a estrada que se estende até a Fazenda da Cachoeira Alta.
Estrada que conecta Ipoema com a Cachoeira Alta (14 km) e outros atrativos naturais da região.
Talvez os mais fundamentalistas do line up discordem, mas para mim, festivais sempre foram sobre música e cultura na Natureza. Por vezes, essa Natureza é exuberante demais e aceitamos passar alguns perrengues, com a ideia de viver o sonho maluco de se esconder no mato por vários dias, longe da onde dizem que é errado gostar do que a gente gosta 🙂 Felizmente esse sentimento é compartilhado por muita gente, e temos vários eventos de Trance aqui no Brasil em belos entornos naturais. E sem dúvidas, o do Pulsar é um dos meus favoritos.
Localizada em uma zona de transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado, os encantos da Serra dos Alves foram considerados de “extrema importância biológica” pelo IBAMA. Os mananciais, a fauna silvestre, a cobertura vegetal e os sítios arqueológicos de Ipoema (distrito de Itabira), são protegidos pelos esforços de duas Áreas de Proteção Ambiental (APA), a do Morro da Pedreira e a da Mata do Limoeiro, o que garante que a paisagem seja fundamentalmente mata preservada.
Serra dos Alves.
A presença da Cachoeira Alta é, para mim, a fonte do pulso que energiza o Pulsar, e o romance com ela começa logo na estrada.
<< Por isso que chamavam ela de Alta! >> Já na estrada, o/a Pulsante de primeira viagem respira fundo e sorri com a certeza de que uma cachoeira desse tamanho não poderá se esconder tão fácil e com certeza será vista desde vários ângulo, mesmo dentro do festival! 🙂
A Cachoeira Alta já se deixa ver desde a estrada.
Entrando na estrada que leva até a Fazenda, o primeiro que aparece é o estacionamento geral, onde carros, excursões e ônibus ficarão, pois para chegar até a segunda portaria é preciso pegar o transporte interno do evento, que realiza o percurso em aproximadamente 10 minutos.
Lá embaixo, a produção tinha montado uma área coberta (com o mesmo estilo e cores da decoração que se encontrava dentro do festival), para que pelo menos uma parte da galera aguardasse na sombra enquanto iam chegando e se ajeitando para subir.
Pessoalmente, vi vantagens nesse sistema de “diluir” a concentração de gente que chegaria toda junta (lembrando que falamos em milhares de pessoas) e que restringe a passagem continua de excursões e ônibus pelas estradas de chão, que muitas vezes atrapalham o fluxo de saída e entrada do evento (presenciei um acidente entre um ônibus e um carro numa curva, dentro da estrada da Fazenda!).
Chegando na segunda portaria, é feita a validação do ingresso, revista e entrega das pulseiras. Lá o visual já é cinematográfico:
Canto esquerdo da 2° portaria (entrada à Fazenda).
Após a queda, as águas da cachoeira formam uma piscina natural de 7 metros (largura) x 8 metros (profundidade), com água límpida e GELADA. São 110 os metros de água que caem da Cachoeira Alta e banham os paredões da Serra dos Alves, sendo a mais famosa dentre as 4 cachoeiras, que, tímida mas progressivamente, vem fomentando o eco-turismo na região.
Na trilha que vai até o mirante da Cachoeira, o pessoal tinha colocado diversos símbolos que fazem alusão ao calendário Maya, bem com alguns cartazes (“1,2,3 Respire” e “Os Alquimistas estão chegando”)
No Pulsar, parece que tudo melhora a cada edição, sendo o Cosmic Stage o epicentro da inovação constante. Em todos os aspectos sensoriais: sistema de som, line up, decoração e iluminação. Toda amarração conceitual que torna a psicodelia envolvente.
O Jony Nacimiento é o responsável técnico pela qualidade do som desde o primeiro Pulsar. Segundo o próprio, “a qualidade dessa edição de 5 anos foi muito além das anteriores, e pretendo melhorar a cada ano”.
A qualidade do som que ouvimos na pista é composto por 5 camadas, o sub grave, o grave, o médio grave, o médio e os agudos. A título de curiosidade, são os sub graves que fazem vibrar o chão e seu corpo, garantindo pressão à música.
Como a edição era especial, foi usado um sistema de som LINE array DB, uma tecnologia acústica com componentes italianos da marca 18sound. Os sub graves cornetados Worhn garantiram uma pressão sonora homogênea por toda a pista, incluindo no fundo. Também foi feito um upgrade na parte de amplificadores e processadores, o coração do sistema.
Achamos o som impecavelmente limpo e alto, digno de carregar a energia intensa do evento, visão que é compartilhada por artistas como Mamão aka DJ Agnish.
Ao longo dos 5 dias de line, vimos uma excelente amostra do que há de melhor no Trance mundial, mas com a devida representatividade nacional. Os dias e noites foram marcados por BPMs que nunca baixaram do psytrance clássico, e evoluíram em uma progressão cujo ápice aconteceu no 3° e 4° dia, com Parvati e Uroboros Records, manifestando de forma cristalina a identidade acelerada do Pulsar.
O formato com noites 100% guiadas por uma gravadora se consolidou ainda mais, com a Parvati Records fazendo uma sessão na madrugada de sexta feira com praticamente 24h de dark, seguidos por mais 24h de progressão psicodélica de BPMs acelerados e som experimental trazidos pela Uroboros.
A experiência de continuidade da atmosfera criada por cada gravadora é algo interessante, cria um alinhamento melhor entre os set e gera uma imersão psicodélica longa e profunda. No entanto, algumas pessoas saíram comentando que sentem falta da diversidade dessas noites. Essa experiência, que é bastante pessoal, não tira o favoritismo do Pulsar como principal referência de psicodelia noturna no Brasil.
O VJing do Pulsar V ficou por conta do Juliano Conorat, mais conhecido como Vj Bang, Vj Picles e a Vj Nazer (Chile). Além do palco, as projeções podiam ser apreciadas na estrutura central da pista.
Mapping no Pulsar 2019. Vj Box por Diego Lemos.
O Chill Out do Pulsar Festival não é daqueles que tu precisa ir até lá, mas a sua posição estratégica assegura que ele seja parte de você em vários momentos do dia. Cercada pela Praça de alimentação, Redução de Danos e o Nebulosa Stage, a vibe do Molecular State se mistura sem esforço com milhões de esperas e encontros passageiros, além dos que decidiam entrar nela.
Vibe das tardes do Pulsar V no Molecular Stage.
Para entrar no clima da proposta desse ano, era preciso descer uma pequena ladeira que envolve a pista, e se deixar convidar ao relaxamento pelos balanços de bambu e tecido. Com um desenho que acompanhou a linha moderna e futurista que o Pulsar já vem trabalhando, a estrutura (bio)arquitetônica desta edição dava a impressão de ser a própria obra.
Com 37 m de diâmetro, a pista foi construída a partir de 6 tetraedros invertidos de bambu. Na metade da sua altura se conectavam por lycras tensionadas como teto do espaço. Para cima dele, a estrutura continuava e era a base para outras. Quando olhado de frente (e de cima da ladeira), o teto da Molecular Stage parecia ser 6 cubos coloridos, cada um sustentado por 2 bambus projetados para o céu, com uns 12 – 13 m de altura.
Visual noturno do Chill out e a Galeria de Arte.
Sem dúvida a inovação mais visível da estrutura da Molecular Stage 2019 foi o bambu tostado, um processo pouco comum pelo qual o bambu fica todo preto. Segundo Rodrigo Gonzalez, idealizador da Spankartz Artistic Installations, a técnica foi testada e desenvolvida em campo, em uma busca tanto por explorar os limites estéticos do bambu, quanto por apresentar algo especial para a 5° edição.
O jogo de luzes também foi parte dos encantos noturnos do Molecular Stage: “Pela segunda vez, projetamos luzes sobre a cachoeira durante a noite. Também quis valorizar todas as esculturas feitas de madeiras e todo verde do local, destacar o mato. Quando você programa e sincroniza várias luzes, você está dando vida a decoração e ao evento”– comentava Jony Nascimento, responsável também pela iluminação do Pulsar.
Montagem do Molecular Stage 2019. Os bambus foram queimados para obter uma estrutura completamente preta.
Decorações iluminadas durante a noite. Camaleão realizado por Live Art’ES (Thiago Coser e Adrian Martin).
Noites para dormir no Chillas? Não no Pulsar V. Quatro noites da Molecular Stage foram exclusividade de projetos que homenagearam uma das vertentes pioneiras da música eletrônica. Sendo as high bpm a identidade sólida do Pulsar, a aderência à convocatória foi relativamente baixa. Porém achei uma boa iniciativa, tanto para aproximar aqueles/as que estão transitando entre o Trance e outras vertentes da música eletrônica low bpm, como para potencialmente ser uma oportunidade educativa sobre música eletrônica como um todo.
Palco (Free Optics & Jaqueline Pedroni da Silva) durante a noite. Uma fogueira no canto direito da pista esquentou e reuniu vários pulsantes durante a madrugada.
Em contraste com a Cosmic Stage, essencialmente composta por projetos masculinos, as mulheres encontraram espaço no Molecular Stage, integrando 25% do line up. De um total de 32 djs/anes e produtores/as selecionados/as, 7 das 8 mulheres convocadas se apresentaram no palco molecular, sob curadoria de Dj Fada (Cymatic Lab/Merkaba Music/Uroboros Records). Elas foram, a própria Dj Fada, Alamoa live / Ziya, Alee Soz, Danii Cantelli, Deeh, Rosamaria e Yaô.
Dani Cantelli (dj, performer trapezista, integrante da crew Origens Gathering) se apresentando no Molecular Stage.
A importância da Cura para o Pulsar foi evidenciada não só na estrutura, mas também no investimento em uma grande variedade de atividades ao longo de todo o evento, que convocou 28 terapeutas e facilitadores/as.
De costas para o paredão de rocha que abriga a Cachoeira Alta, se erguia a cúpula da Tenda de Cura. Visando um desenho aconchegante e funcional, o Juliano Cenci e colaboradores (Xama Bambu), construíram uma estrutura cujo centro era uma árvore Ficus que já estava no local (sensacional!).
A Quantum Stage 2019 teve uma árvore de Ficus no centro.
Na sua periferia, foram construídas 3 meias-cúpulas, que ofereciam privacidade e o conforto para os atendimentos individuais:
A Tenda De Cura (Quantum Stage) incluía uma cúpula central e três mini-cúpulas, destinadas aos atendimentos individuais.
Sob coordenação da Carolina Lopes (fundadora da Cristal Terapias Naturais, BH), o trabalho do núcleo se manifestou na presença continua e dinâmica dos seus membros no espaço. Além disso, a Carol Cristal, como muitos a chamam, dedicou um cuidado extra para aqueles que iam realizar atendimentos, indicando-lhes fazer jejum prévio à terapia, prezando pela concentração e o alinhamento interno.
Entre a manhã e o fim de tarde, a Quantum Stage efervescia! A vasta programação incluía terapias individuais (Massoterapia, Ventosaterapia, Reiki, Theta Healing, Barras de Access, Terapia Quântica Reconectiva, Cristalterapia, Acupuntura da Terra), vivências coletivas (Yoga, Dança, Biodança, Deeksha, Mandala de Ervas Sagradas, Tarot, Astrologia, Quiromancia, Tarô, Desenho vivencial), rodas de conversa (Sagrado Feminino; A Mulher e o Trance; Sexualidade Consciente), aplicação de medicinas ancestrais (Roda de rapé e Sananga), performances (Dança vermelha) e música (Terapia sonora/Medicine drum; Meditação musical dos chakras), que capturaram a atenção de centenas de pessoas que chegavam buscando auto-conhecimento e relaxamento.
Nessa linha, a Carol apontava: “Vejo a Tenda de Cura como um ponto de luz dentro do festival, que protege e ancora a energia de todos os que fazem parte (…) Depois do trabalho do ano passado, recebemos o depoimento de muitas pessoas que sentiram uma mudança na sua vida. Então estamos aqui de volta, com mais amor e compromisso!(…) A fase atual da Quantum Stage tenta ser integral, trazendo Cura desde uma grande diversidade de práticas terapêuticas, não apenas desde uma mesma linha, como já foi no passado. Esse ano teve de tudo, estou feliz e agradecida com o trabalho da equipe! “
Para salientar a importância da Tenda de Cura de uma forma prática, vou comentar o caso de um menino que ficou com torcicolo no primeiro dia. No posto médico do evento, só tem aquela medicação do tipo “vida ou morte” (por exemplo, antiespasmódicos), então no mínimo, ele teria que sair do evento. Mas por incrível que pareça, em Ipoema tem Museu da Farmácia mas não tem farmácia, de forma que e ele teria que ter ido até a próxima cidade atrás um relaxante muscular.
Mas lá estava a Cura pronta para devolver o pulso aos Pulsantes! Ele conseguiu agendar uma Ventosaterapia com a Cris Lacerda, quem por excesso de demanda, acabou atendendo mais pessoas do que tinha sido combinado.
E aí, é festival multicultural, ou não é?! 🙂
Cris Lacerda aplicando Ventosaterapia. A terapeuta também oferecia Massoterapia, Reiki didgeridoo, Saranga e Roda de Rapé | Fotografias: Carolina Dias.
Parece que quando pensamos em energia feminina dentro do Trance, vem mais a nossa cabeça a imagem de performers e lojistas, do que de produtoras de eventos e djanes. Esse é um exemplo das conclusões que trouxeram os números da pesquisa sobre Energia Masculina e Feminina dentro do movimento, divulgada tanto por esse portal, Trance.com.br, como pelas equipes do Pulsar Festival e o Madre Terra Festival.
De forma anônima, a pesquisa avalia questões vinculadas às dinâmicas pessoais e profissionais entre mulheres e homens dentro do Trance, representatividade feminina, assédio, machismo, feminismo e homofobia (* Em breve vamos publicar os gráficos e resultados da pesquisa. Ainda podem participar clicando AQUI).
Mas apesar de as mulheres não ocuparem tantos cargos de liderança (visíveis) no ecossistema Trance brasileiro como um todo, temos alguns festivais de mediano porte (considerando eventos de 2.000- 5.000 pessoas) como exceção à regra.
Desde o extremo sul do Brasil, a crew do Origens Gathering já tem anunciado que tem as energias, no mínimo, balanceadas, mas com tendência a ser maioria de mulheres. A mais de 1.700 km, no norte de Minas, o Pulsar Festival é conhecido por ter uma mulher como diretora executiva e produtora cultural (que por sinal, já participou de uma matéria nesse portal sobre a mulher no movimento) – {Se você conhecer outros festivais organizados por mulheres, conta pra gente}
Será provavelmente pelas implicações disso que em 2018, o Pulsar trouxe a ideia de ter uma parte da sua programação dedicado às Mulheres, e em 2019, a ideia brotou.
Nesse sentido, a Karla Amadei (Madre Terra Festival, Soubiose ex Eubiose, especializada em Biodança e colunista desse portal), comentava: “É muito gratificante ser parte da Quantum Stage do Pulsar Festival pela segunda vez, e dessa vez ter a oportunidade de criar uma programação toda dedicada ao feminino sagrado, e poder incluir algumas mulheres do coletivo Madre Terra Festival, que é um encontro de auto-conhecimento e reconexão por e para mulheres, sediado no Ceará. Me sinto confiante nessa egrégora que estamos começando a construir juntas, entre coletivos, somando nossas conexões e fazendo novas”
Nesse contexto, a Karla Amadei e eu, Sara, facilitamos uma roda de conversa baseada na pesquisa que mencionei acima. Para nossa surpresa, alguns homens se fizeram presentes, participando fundamentalmente em qualidade de ouvintes. Encerramos a atividade nos convocando a um abraço coletivo, com aquele sentimento de que como Ying e Yang que somos, somos complementares, e muito deve ser feito ainda de ambos lados para desconstruir o machismo.
“Percebi que existe uma procura e uma vontade grande das mulheres por participar de atividades que tenham como objetivo tanto o fortalecimento do feminino, como o debate sobre machismo e feminismo no movimento. Conversando, parece que todos/as concordamos que o Trance é um espaço para a liberdade e transformação, mas que na prática, ainda tem muito o que curar nesse aspecto (…) Ver as manas dando as mãos, se abrindo e se conectando foi algo bem simbólico.” – analisava a Karla Amadei depois que encerramos a vivência.
Mulheres do Pulsar V.
A Galeria de Artes foi construída ao lado do Chill Out, num córrego elevado que se comunicava com a parte de Redução de Danos.
Portal Nebulosa Stage – Pulsar Festival 2019
Os artistas convocados para a exposição desse ano, foram: Thiago Cardoso (Telas e Esculturas); Thiago Ectoplasma (Telas e Madeiras); Bruno Sobrenome (Esculturas e Telas), Izabela Duprat (Telas); Sullivan Alves (Arte Digital); Luiza Semente (Telas); Eduardo Mauss (Esculturas) e Eduardo Credo (Telas).
Fotografias de algumas das obras expostas.
Pela quarta vez, a Redução de Danos do Pulsar ficou por conta do Projeto ResPire. Lá uma equipe bem disposta e com notável gosto pelo debate e a pesquisa, informava curiosos/as e acolhia quem precisava (nas palavras deles/as, “Aqui é um refúgio para aqueles/as que querem descansar o corpo e a mente”).
Assim que o olho batia na parede da tenda, encontrava uma tabela de interações entre diversas drogas, um lançamento da Tripst, que pode ser consultado on-line. Sobre uma pequena mesa, uma série de panfletos informativos (a mais completa que já vi) descrevia os efeitos e cuidados com todas as substancias psicoativas que circulam pelo Brasil.
O projeto contou com o suporte de alunos de doutorado da UNICAMP, da área de Toxicologia. Também, ResPire tinha anunciado que “a surpresa do ano” seria a entrada de um novo parceiro, que acabou sendo a PreParty.
“(…) ResPire tem como objetivo a educação sobre o uso de drogas. No campo, o foco é no Serviço de Análise e Informação de Substâncias Psicoativas (SAISP) onde o usuário pode se informar e se prevenir antes de decidir usar qualquer substância. Nosso trabalho que é preconizado na Política de Atenção Integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas (2003), e respaldada pela PORTARIA Nº 1.059/GM DE 4 DE JULHO DE 2005, do Ministério da Saúde objetiva o bem-estar dos indivíduos respeitando suas escolhas e subjetividades sem preconceitos ou julgamentos morais”.
Noites de palestras, transmissão de conhecimento e assistência na Tenda de Redução de Danos.
Lembro de estar no meu segundo festival (interior da serra catarinense), quando ainda não sabia o que o Trance era, e comer um nhoque 4 queijos, todo feito e derretido na hora na minha frente, pela metade do valor que pagaria na minha cidade. Acreditei entender então que, o que seja que fossem essas “festas de duendes, fadas e grilos”, eram um lugar onde a alimentação era importante. Já ouvi dizer que isso é coisa do Trance do sul, mas seja como for, desde então sempre reparo na qualidade e preço do que é vendido e em que tipo de embalagem.
Felizmente, a experiência ainda me mostrou que em geral as Praças de Alimentação seguem sendo alternativos (apesar que as embalagens continuam sendo de isopor e plástico em quase todos). Porém a do Pulsar 2019, não foi das minhas favoritas. Já tinha ouvido que era um pouco cara (coxinha R$10, misto R$10, etc), mas além disso, as opções (que não eram tantas, especialmente se você era vegetariano/a), não me inspiraram muito. Me descobri com fome algumas vezes, sem vontade de comer nada do que ofereciam por lá (e isso é raro).
Destaco projetos como Cheirim de Minas. Com uma pegada de culinária italiana, o pessoal tinha a melhor tríade qualidade/quantidade/preço que consegui identificar (mas não experimentei todos), oferecendo calzones por R$22 e deliciosos rondelli por R$25 (aquela comida que tu gasta sabendo que vai ser muito boa e que vai te deixar satisfeito/a). No último dia, rolaram algumas promoções em vários stands, como um hambúrguer vegetariano muito gostoso por R$15. Também destaco o delicioso capuccino do pessoal da mainfloor!
Mas tendo cozinha comunitária e podendo levar comida, não temos o que reclamar. Depois de tudo, é difícil determinar qual é o valor de levar massivamente frutas, vegetais, grãos e carnes até lá, mante-los bem preservados, e ficar preparando-a o dia inteiro para a galera, que não quer perder seu tempo de curtição. Seguindo a linha de bioconstrução do festival, a cozinha comunitária esteve lá também como um point de reunião para várias galeras que compartilhavam utensílios e dividiam comidas coletivas.
Segundo os/as lojistas consultados/as, o Pulsar é um evento que vale o investimento, pois o retorno é certo. Sendo um dos eventos líderes em seu formato no Brasil, é sabido que muita gente programa um gasto além do evento.
Para o tamanho do Pulsar, talvez a feira poderia ser maior (sou fã do empreendedorismo psicodélico :)). Porém tinha um pouco de tudo: tabacaria, joalheria alternativa, decoração, vestuário e acessórios. As lojas parceiras foram: Allucinarium (moletons UV – desenho autoral), Arte AC (camisetas UV – desenho autoral), Belly Roots (Tabacaria e vestuário), Conexão Bholenathe Psy Store & Chai Shop (Vestuário – desenho autoral), Ethnical Jellewery (Joalheria alternativa), Mythical (Acessórios e vestuário de desenho autoral em coro), Hecho Con Amor (Vestuário desde Chile – desenho autoral).
Fazendo um contraponto ao consumo, havia também uma feira a de trocas realizada como uma parceria entre o Ateliê Évora e o Pulsar Festival.
“Nós, do Ateliê Évora, temos um projeto de consumo consciente, onde customizamos peças usadas. Dessa forma, além de possibilitar a troca de objetos no Festival, nós também “abrimos nosso ateliê” para que todes pudessem customizar sua roupa com stencils e serigrafia. A iniciativa surgiu do interesse de reutilizar peças de roupas paradas para que assim tais energias entrassem em um novo movimento. Além das peças de roupa, também era possível trocar serviços, acessórios, terapias e até comidas. Foi uma experiência bem interessante porque após os 6 dias de trocas, percebemos que o valor das coisas em si eram completamente diferentes de pessoa para pessoa. Além disso, o escambo possibilita uma relação direta e equilibrada entre o dar e o receber, fazendo com que muitas vezes a experiência de estar trocando algo com alguém seja ainda mais interessante que o objeto em si. O mercado de trocas no festival Pulsar foi um experimento maravilhoso que resgatou uma prática ancestral para a contemporaneidade de uma forma leve e divertida” – comentava Thaes Arruda, quem também faz parte do Coletivo Boikot e do Festival Visionário, que acontecerá no próximo Setembro 2019.
O Pulsar V fez um grande esforço para espalhar a mensagem: previamente, numa campanha lançada em Abril, se definiam diretrizes para ser mais sustentável durante o festival; no evento, cartazes sobre micro-plásticos na entrada da pista principal e espalhados por aí, entrega gratuita de “bituqueiras” (achei sensacional), coleta seletiva de resíduos e plantio de mudas.
O que poderia ser melhorado nesse sentido para a próxima edição?
Não permitir que o pessoal encarregado da alimentação entregue embalagens de isopor e diminuir os plásticos. A reciclagem é essencial, mas não é um caminho, uma vez que nosso consumo é gigante e dependendo do material, a reciclagem pode ser ambientalmente mais cara que a própria elaboração do produto.
Algumas ideias malucas para que a crítica seja construtiva:
– Prato e talheres Pulsar 2020
– “Eco-moeda” (“Leve 10 plásticos produzidos no festival e ganhe X coisa/desconto”…Lembrando que o que para muita gente é lixo, para outros/as é fonte de renda).
Ser sustentável é ir no contra-fluxo da nossa sociedade, baseada no enriquecimento do use-e-jogue-fora. O desafio é enorme, especialmente em países do 3° mundo, intencional e historicamente adormecidos.
Por essas latitudes ainda nos falta instrução, conhecimento e especialmente tradição sustentável. E quem sente amor pela Terra que habita e tenta fazer a diferença, nem sempre consegue lidar com as suas próprias contradições.
O que eu vi, foi certa negligência para caminhar até a lixeira certa. Especialmente depois da janta na Praça de Alimentação vi muitas, mais muitas mesas cheias de restos de comidas e embalagens…aquela “vibe Mc Donalds” que nos trouxe até esse ponto, representada pelo pensamento de <<“Por que vou vou fazer se tem alguém que é pago para fazer para mim?”>>.
E de fato o Pulsar tinha uma equipe gigante de pessoas locais recolhendo resíduos constantemente.
Palmas para o evento, mais P.L.U.R para o público.
O Pulsar contou com banheiros de alvenaria e químicos, e duchas de alvenaria e de contêiner, uma estrutura que me pareceu bastante de acordo com o público esperado.
Meu mais sincero parabéns! No final do evento, até tive que dar um abraço de agradecimento na Dona Isabel, uma das mulheres que limpava os banheiros das meninas (zona de camping atrás da Feira Mix). Vi ela trabalhar MUITO, mas MUITO, para que os banheiros estiveram impecáveis durante todo o evento, suportando aquele fluxo continuo. Com os olhos cheios de lágrimas e notória vergonha, ela me falou: << Muito obrigada por se importar comigo e dizer isso do meu trabalho >> e eu fiquei com essa fala na cabeça até hoje, desejando que muitas outras pessoas tenham parado para lhes agradecer também!
Houve algumas filas e polêmicas ao redor das duchas nos horários picos, especialmente na procura da bendita ducha quente no banheiro das meninas. Sobre isso não tenho muito há dizer, pois tomei ducha gelada todas as vezes (na terceira vez você quaaaase curte, afinal o desapego meio que te liberta kkk), sem filas longas (ducha fria anda rápido, né). Parece que tinha água quente para quem tinha paciência para fazer filas longas e tomar banho durante a madrugada.
Eram as 05:30 am e a pista principal se preparava para receber o dia. Meu olhar vagava pela Cosmic Stage, quando vi uma cena que me chamou muito a atenção: com uma pá, uma menina e um menino preenchiam pequenos buracos no chão, evitando que a galera virasse o pé.
Acredito que eram do Controle de Qualidade do Evento, uma equipe que descobri por acaso na entrada, quando uma menina chegou com um rádio e reunindo o pessoal da portaria, falou algo como: “Nós somos o Controle de Qualidade do Evento. As reclamações devem chegar em nós estamos preparados para lidar da melhor forma possível, sabendo todas as possibilidades e times atuantes no momento”.
E quão tangíveis foram para mim as suas palavras, quão importante é essa articulação entre a produção do evento e quem cuida dele! Como pessoa que já foi literalmente roubada na portaria de um evento (Revolution 2015, SC), sei bem quanto as equipes terceirizadas tem a capacidade de estragar por completo um rolé, quando são selecionadas ou monitorados com negligência. Uma bem-vinda cordial e eficiente é base para que quem entre chegue com as melhores energias.
Nesse caso, só tenho palavras de respeito para quem trabalhou na portaria, assim como o pessoal de segurança e bombeiros (sei que tal vez quem chegou em um momento crítico, como a tarde de Quarta feira, discorde de mim).
Desde que comecei a reparar na linguagem corporal dos/as bombeiros/as no momento da pirofagia na mainfloor já vi muita aversão, rejeição e medo. Além do fogo, muitas performances noturnas flertam com a desconstrução de nossos sistema de crenças (androginia, atracão homo, poli-amor, bruxaria, tribalismos, e uma extensa lista de apologias a assuntos considerados “profanos”). Por vezes percebo como o que está sendo ali representado entra em conflito com o critério estético, moral e/ou ético de quem está trabalhando, que talvez esteja se enfrentando pela primeira vez com esse questionamento.
Então no final do Pulsar, nos aproximamos para conversar com duas bombeiras sobre a sua visão sobre o festival e sobre o tipo de música. Uma delas, respondeu animada:
“Não é meu caso! A cara de seriedade é porque estou trabalhando, porque o que eu queria mesmo era estar curtindo! Já é a segunda vez que trabalho nesse tipo de eventos, cada vez gosto mais. Das pessoas que então aqui nem se fala! Os que chegam com preconceitos ou medo é porque ainda não tiveram contato, mas quem já teve vai explicando como são as coisas por aqui…e daqui a pouco a pessoa já quer vir para pista no seu horário de folga, como aconteceu dessa vez!”
A outra, mais tímida, acrescentou: “Eu já não consigo gostar muito da música ainda, tem uma horas horas que meu ouvido fica cansado, é um som muito diferente. Mas curto demais trabalhar aqui porque o pessoal é muito de boa e tem menos confusões que em outros eventos que trabalho. Se rolar alguma coisa, é algo interno da pessoa. Nunca temos brigas, isso é fantástico!”.
O caráter da equipe também foi elogiado nas redes:
A bioconstrução é parte do núcleo sólido do Trance como movimento em formato festival. Sendo assim, vamos começar falando da Spankartz Artistic Installations, responsável pelo desenho do Chill Out, Galeria de Artes, Praça de Alimentação, Feira Mix e portais. No resto dos espaços, como Mainfloor e Área de Cura, a Spankartz também participou desde o suporte técnico, brindando uma equipe especializada em trabalho em altura com segurança.
Seu idealizador, Rodrigo Gonzalez, apontava : “Nosso diferencial de mercado é a inovação, nosso trabalho é exclusivo para cada projeto (…) Nesses 5 anos de Pulsar, viemos criando uma variação de metologias, desenvolvidas em cima de técnicas clássicas de bioconstrução que já tinham sido aprendidas por nós, com bambu, cordas, tecidos, grampos, etc (…) Somos um time preparado para atender o festival todo. Hoje em dia, nosso âmbito de conexão com festivais deixou de ser apenas estrutural, nos ocupamos de coisas como rota de fuga, entrada de bebidas, nos tornamos uma produtora em campo, que articula entre a produção e as equipes de montagem”
Algumas das estruturas desenhadas por Spankartz Artistic Installations.
Com 7 anos de experiência cenográfica, a chegada do projeto argentino Arte Índico Decor, é novidade no Pulsar, mas não no Brasil. A dupla de Anita Martinez e Platon Mazanarez, já tinha debutado construindo a mainfloor do Katayy Festival 2015. Mas sem dúvidas, 2019 ficará na história como o ano que Brasil abriu as portas de vez, chamando-os para construir o palco do Pulsar Festival 2019, Sonora 2019 e High Paradise 2019.
Palco em MDF da Arte Índico Decor no Pulsar Festival 2019. O centro parecia um olho geométrico, da onde irradiavam psicodelias diversas, mediante um vídeomapping veloz e ajustado.
Consultados sobre a sua experiência, Arte Índigo declarava: “Nossa experiência no Pulsar, foi intensa e inesquecível. Acreditamos que é um dos melhores festivais underground em todo o mundo (…) Foi uma satisfação imensa poder trabalhar com equipes altamente profissionais e artistas de diferentes países, e poder compartilhar a atmosfera e a profundidade que o Psytrance alcança através da arte(…) Buscamos sempre inovar, representar a essência de cada evento. Acreditamos que cada local e cada festival é carregado com histórias que têm que ser contadas através do tempo. Isso nos motiva a criar peças sem repetição, únicas, gerando uma constante mudança de técnicas e designs”.
Palco da Arte Índico Decor em MDF no Pulsar Festival 2019 durante o dia.
A essência da Free Optics já é um clássico do Pulsar. Representado pelo artista alemã Dennis W. (“Blacklightnature”), os trabalhos do coletivo revestiram novamente a cara interna da pista. Delicados traços de tinta UV pintaram folhas, espirais, esferas e outras figuras orgânicas, sobre panos translúcidos.
Mainfloor – Cosmic Stage, Pulsar Festival 2019. Panos da Free Optics nas bordas da pista.
Vi o trabalho deles ao vivo pela primeira vez há alguns anos atrás, num festival sem fins lucrativos (Encontro Fora do Tempo, SC). A pista tinha pouca altura e os panos ficavam intensamente iluminados e próximos dos olhos. A psicodelia era tremenda!
Sempre bom revê-los!
Free Opticsna mainfloor do Pulsar Festival 2015.Free Optics na mainfloor do Pulsar Festival 2016 | Fotografia: Murilo GaneshFree Optics na mainfloor do Pulsar Festival 2017 | Fotografia: Erich Sander
A Free Optics também desenhou a tenda (“shade tent”), com colaboração Felipe Almeida Fioravante, Matheus Pace e SDF Arte (que espalhou uns cartazes muito lindos pelo evento também).
Shade Tent – Pulsar Festival V
A assinatura artística de Djalus é facilmente reconhecível, uma vez que você compreende as possibilidades e linhas estéticas, dominadas por materiais orgânicos, normalmente autóctones, que fazem honra ao Land Art, uma corrente de arte contemporâneo que usa a Natureza para intervir a si própria.
Esculturas próximas à pista principal.
“Na Cosmic Stage, seguimos algumas ideias do Dennis Blacklightnature (Free Optics), quem nos convidou a conectar a energia da terra com materiais mais pesados, como madeiras, e o que seria o céu, onde flutuariam as pinturas de atmosferas mas cósmicas (…) Combinamos um pouco da estética de “florescimento” do ano passado, com luminárias circulares e coloridas. Esse ano, Djalus somou a Diego Lemos com quem compartilhamos a linha de materiais. Entre todos, demos a pista um acabamento conceitual”
Colunas feitas com e galhos do local, envolviam luzes coloridas. Pulsar Festival 2019.
Fernando do Valle, conhecido pelo seu trabalho como Arte Beta, participou desta edição com sua string art. Na mainfloor, realizou uma intervenção na parte interna da estrutura central da Cosmic Stage.
Nesse sentido, o artista declarou: “O Pulsar sempre leva pra uma temática bem espacial, pelo nome ser relacionado a estrela. No meu trabalho, tentei com geometria e linhas flúor, fazer com que meu plano 3d, que produzi com as linhas, se fizesse um só com o espaço. Dando a impressão de tudo fazer parte de um”
Cosmic Stage com linhas que brilhavam na luz UV.
Ao lado da tenda de Redução de Danos, Arte Beta também se fez presente realizando algumas chamativas instalações.
Instalações com string art entre a tenda de Redução de Danos, Nebulosa Stage e a Quantum Stage.
Obsclaria é o nome do projeto por trás da criação de esculturas com manipulação de grade de aço. No Pulsar V, Obsclaria se fez presente com esculturas tridimensionais pendentes, na entrada da Nebulosa Stage e no centro da Molecular Stage.
“Eu fui cortando e costurando formas abstratas e testando formas de ilumina-las (…) e experienciando a instalação foram me vindo conceitos. Eles são seres de dimensões mais sutis, que surgiram através de egrégoras criadas pelo inconsciente coletivo da humanidade. Sua estética amorfa ou desforme é um espelho de personalidades que são criadas por indivíduos humanos imperfeitos. Servem como organismos sutis que filtram energias que são o lugar de onde nasceram ajudando no processo de evolução e cura dessas personalidades e tornando os ambientes por onde passam lugares mais fluidos”
Sob curadoria do Vini Cirque, e maquiagem de Shaiani Trevisan, as performances do Pulsar V incluíram acrobacia aérea (trapézio); pirofagia (malabares, bambolé, dança/teatro); contact; e expressão corporal (chill out).
Quem vê o Pulsar ao vivo, entende a complexidade de organização necessários para levantar uma cidade temporária daquelas. Dos infinitos problemas que podem surgir para que um festival se perpetue de forma saudável para todas as partes, o Pulsar vem fazendo um excelente trabalho, antecipando problemas e garantindo a qualidade em todos os aspectos do evento.
Antes de escrever essa matéria, sentei para navegar nas redes sociais, na busca de elogios e críticas sobre o 5° capítulo do Pulsar, para poder ser capaz de empatizar com todas as realidades. Ser objetiva foi difícil, a minha vivência pessoal foi EXCELENTE, mas entendo que é bom sempre estar ouvindo e refletindo com intenção de ajudar os bons eventos para preparar para voos ainda maiores 🙂
Já comentei algumas polêmicas no texto (como a praça de alimentação e as embalagens), então só vou comentar o que acho que precisa ser esclarecido:
4.1 – Atrasos na portaria: Os atrasos foram causados por um embargo dos bombeiros de última hora. Dou fé (porque já estava lá) que o planejamento da portaria foi bom e que assim que surgiu esse impedimento, tudo mundo que tinha condição se uniu e saiu revestindo os cabos da forma mais ágil possível para o contexto. Porém é entendível que uma espera de até 10h na entrada do evento, possa comprometer a vibe dos Pulsantes já na largada, que esperam pelo festival ano inteiro.
4.2 – Ausências no line up: Kasatka não conseguiu embarcar por problemas pessoais (a produção manifestou interesse em remarcar a visita). Já com Archaic, o festival comunicou que enviou a passagem e o cachê, mas no dia do vôo ele não embarcou (o artista se defendeu contando uma história de acasos que não consegui entender muito bem).
4.3 – Duchas com chuveiro quente: Sei que nesse assunto não há consenso, que tem pessoas que acham que deveria ter ducha quente sempre, mas sabemos que isso representa um gasto muito grande. Entendo que tem galera de lugares onde frio é 25°C, e claro que eu também adoro um banho quente, mas se for só por uns dias, acho que da para relevar, aprendendo a tomar duchas rápidas, focadas na limpeza e não na beleza/conforto. E fica aqui mais uma reflexão de se realmente precisamos lavar o cabelo todos os dias num festival no mato (meu cabelo também vira um dread só, mas tal vez podemos prender ele, fazer uma trança, etc).
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Esse post foi escrito após uma experiência muito positiva fazendo parte desse caldo psicodélico! Se liga: o evento para 2020 já foi anunciado!
👽 Até a próxima 👽
Pulsar Festival 2017 – Um concerto musical psicodélico alienígena – por Bianca Motta (Interfaces)
Resenha Pulsar Festival 2018 – por Karla Amadei (Madre Terra Festival/Soubiose)
Preview Pulsar Festival 2018 – pela Crew Pulsar
Que sinceridade bonita e animadora de se ver em sua discrição, agora mais que nunca anseio em ter a experiência PULSAR!!! 🙏🙏