Começa mais uma turnê européia! Esse já é o quinto ano seguido. Pode parecer que virou rotina, mas no momento complexo que vivemos nesse mercado psytrance, principalmente o brasileiro… essa é uma conquista muito importante e gratificante para mim.
Este ano fui convidado para alguns dos festivais que mais respeito na cena mundial:
Freqs of Nature Festival – Alemanha
Lost Theory Festival – Espanha
Boom Festival Official – Portugal
MoDem Festival – Croácia
Organizações que reconhecem e valorizam a importância do DJ em seus line ups, assim como fornecem um ambiente que não só estimula, mas também te força de uma maneira ou outra, a tocar sets diferentes do comum.
, em formato de cidade temporária com 35 mil pessoas. Com tudo fluindo pacíficamente.
Em relação a este assunto, aproveito para refletir sobre um tema que considero relevante para todos nós. Aviso: tire um momento do seu dia para ler, pois não é uma reflexão rasa, com poucas palavras.
Pois bem, inicio o raciocínio com isto: se todo mundo quer sempre tocar o que há de mais novo e mais explosivo, isso de certa forma vai causar um certo tipo de uniformidade nas apresentações… e isso é o que temos visto com alguma frequência hoje em dia, na nossa cena.
Para efeito de comparação, cito exemplo do techno, onde vemos diversos artistas tocando músicas de 5 a 20 anos atrás, misturando-as com músicas recém lançadas, outras não lançadas e também aquelas do passado recente, entre 1 a 5 anos de lançamento.
Basicamente, utilizam o extenso catálogo de todas as músicas já lançadas no estilo, com o filtro do que é original e único, enfatizando seu valor musical e não somente sua qualidade técnica de áudio.
DM7 Bookings, que têm feito tantas coisas boas pela nossa cena, tenho muito
orgulho dessa família!
Conectar-se com aquilo que veio antes de nós, pra poder entender e vislumbrar melhor para onde estamos indo, é algo que considero como uma boa solução para o momento.
Muitos de vocês já dançaram músicas de 18 anos atrás nos meus sets e nem perceberam. Música boa é atemporal. O tão amado e especial artista israelense Cosma produz arrepios em nós até hoje, quando tocamos músicas de seus álbuns “Simplicity (2001)” e “Nonstop (2003)”. Isso mesmo, músicas de 17 e 15 anos atrás, respectivamente, de um artista que não mais está entre nós.
Assim como esses mencionados, também já existiram e foram lançados incontáveis álbuns, ep’s e compilações com diversas relíquias sonoras, músicas que inspiram e transmitem sentimentos impossíveis de se colocar em palavras… acima de tudo, músicas que são completamente adequadas para entrar em sets hoje em dia e não só nessa proposta de “old school” que têm sido usada.
A real galera, é que me preocupo para onde estamos indo com tudo isso. Todos sabem o quanto o mercado está viciado e dependente, não está fácil para ninguém (com algumas poucas exceções) e incluo nisso todo mundo mesmo de todas as partes da cena.
Eu não tenho problema algum com os sons para festas maiores e que se enquadram em uma proposta artística mais direcionada para pista. Tanto é que tenho amizades bem legais com produtores e djs deste estilo, tenho uma conversa super aberta e principalmente, muito respeito pelo trabalho deles nesse segmento.
Devemos procurar influenciar o público, sempre que tivermos a oportunidade. Sair da regra, tocar coisas inesperadas aqui e ali, pesquisar e tocar raridades, coisas antigas, coisas não tão antigas, trazer referências de outros estilos, surpreender, arriscar, ousar, não ligar se vão dançar ou não… educar… lapidar.
Do contrário, continuaremos seguindo num caminho meio que à deriva, meio que seguindo aquele negócio de criar para atender uma demanda… o que na arte, acaba limitando muito o que pode ser feito.
Muitos dos meus colegas de profissão, tanto DJs quanto produtores, já sentiram ou sentem na pele, essa limitação. Você pode até se acostumar e a certo ponto esquecer dela momentaneamente por N razões, mas a limitação sempre vai se fazer presente em um ponto ou outro, ela não vai embora.
No fundo no fundo, eu só queria que essa limitação pudesse ser, de pouco a pouco, cada vez mais ignorada e colocada de lado. Primeiro pelos artistas e depois por nossa influência, pelo público.
Pode soar como uma utopia, mas eu acredito que se houvesse um esforço conjunto, isso poderia ser alcançado. É uma missão que precisa do máximo número de voluntários possíveis; uma missão que tenho certeza que o público também está pronto para participar.
Não que seríamos felizes para sempre depois, óbvio né! Mas seria uma conquista nunca realizada antes, nessa cena. Algo inédito.
E se querem um exemplo “vivo” disso, estudem a fundo o techno e sua evolução artística desde a origem do estilo até os dias de hoje. Isso não é impossível e eles, em conjunto, já o realizaram.
Temos tudo para seguir esse caminho… fica aqui meu incentivo para que cada um que sentir ressonância com essa mensagem, de fato se aliste como voluntário nessa missão.
A cena precisa de você, qualquer contribuição que seja, já será de grande.
Confira meu trabalho e o de outros artistas da gravadora Zenon Records:E na DM7 Booking: