Rodrigo Miranda- Decoração & Bioconstrução Nacional

Recentemente o  Rodrigo Miranda , conhecido como “Careca”, completou 14 anos de caminhada no mundo da música eletrônica. Nesse período colaborou com mais de 50 edições de eventos pelo Brasil,  dentre os quais se destacam grandes clássicos como Mundo de Oz, Pulsar Festival, Respect Festival, Progressive Festival, Adhana Festival, Earthdance Festival RS, Soulvision Festival e Universo Paralello.  A sua participação foi importante para o crescimento da cena no país e seu crescimento pessoal como artista, o que fica muito claro quando mergulhamos na arte multifacetada do Rodrigo. Com uma clara influência de técnicas derivadas do domínio do grafite, a suas criações seguem uma linha influenciada pela  arte visionária,  geometria sagrada, arte urbana, muralismo, muralismo, arquitetura, string art, tecidos e cortes em madeira mdf sobrepostas.

Ao falar de arte com o Rodrigo, ele disse que as suas obras remetem a busca do equilíbrio entre corpo, alma, terra e cosmo, e pode-se perceber também como o valor que ele atribui à experiência é fundamental para seu desenvolvimento.  Amizade, mentores e experimentação diárias, são a essência desse artista que  “deixar fluir a sua busca eterna a cada passo”, e que projeta a sua potencialidade artística num peculiar sonho:  morar numa pequena vila pacata que possa decorar por completo.

Sem mais preâmbulos, o 7° capítulo da nossa coluna de Decoração e Bioconstrução Nacional dentro da cultura psytrance é um convite para se aprofundar na vivência do Rodrigo “Careca” Miranda. Bora lá?

Rodrigo Miranda.

Para começar..da onde você é?

R.M: Sou gaúcho, natural de Porto Alegre, membro da crew  BECO-RS,  junto com Erick Citron. O nome de um grupo de amigos de bairro que tínhamos um ponto de encontro, um local.

Como chegou a trabalhar com cenografia?

R.M: Sempre tive facilidade com desenho desde pequen, faço parte da segunda geração de grafiteiros do estado, vivenciei a evolução dos materiais e meios de comunicação virtual. Comecei a frequentar festas eletrônicas em 2004 em Porto Alegre e em 2008 foi meu auge de frequência nas festas… o sonho de querer conhecer o UP era grande. Fiz a viagem mas ao mesmo tempo passei bastante dificuldade por não estar bem preparado para ela. A partir daí foi um divisor de água muito importante na minha vida, pois nessa viagem resolvi parar de frequentar o rolé. Então retornei para as minhas raízes, que é o graffiti, foquei nele, mas com um estilo de trabalho novo, que tinha mudado pela experiência visual vivida durante esse tempo no psytrance.

Murais | “Os murais são um convite à reflexão, desafiando temas polêmicos e atuais vividos em nossa sociedade. Uma verdadeira viagem no universo criativo e crítico da dupla Beco-Rs”

Como foi o processo de aprendizagem?

R.M: O aprendizado é eterno! Me criei dentro da empresa dos meus pais, tive muito contato com ferramentas, mas o graffiti é  minha origem, minha raíz, desde o estilo clássico ao moderno. Gosto desse contato com a rua, com o skate, com os grupos de bairros. Foi um grande aprendizado para minha vida. No trance, tive a honra de conhecer o Rodrigo Ecos (Ecos da Naturezaza), que foi meu mentor para fora da região sul.  Ele me apresentou organizadores de festivais em São Paulo, abrindo dessa forma as portas para o meu desenvolvimento na cena.

Murais e decorações de ambientes indoor | “Tenho uma ligação forte ao arte de rua. Participante do Projeto Artes pela marca Hocks Skate”

Estudou em algum lugar ou é autodidata?

R.M: Mmmh, o que eu mais fiz foi estudar em lugares rsrsrsrsr. Digamos que eu não era um aluno exemplar, passei por muitos colégios até completar meu 2° grau. Na parte artística sou autodidata, não fiz faculdade, porém fiz alguns cursos de desenhos, estudo de luz e sombra, mas nada duradouro, foi a prática mesmo, testar, procurar utilizar varias marcas de tinta. Acredito que só nessa vivência que aperfeiçoa a técnica. Nunca tive apoio de materiais, o que faço até hoje e direcionar um valor X de um projeto para material e com o que resta, faço meus trabalhos pessoais. Poucos vivem de arte, a grande maioria sobrevive de arte…vai depender dos seus valores de vida, simples assim.

Soulvision Festival.

Qual foi seu primeiro trabalho na cena? O que lembra dessa experiência?

R.M: Após 1 ano parado, eu estava com outro pensamento, mas fui em uma festa de amigos, simples, poucas pessoas… um encontro praticamente, e levei algumas telas para expor. Assim conheci o produtor do Revolution Festival (Santa Catarina), e a convite dele realizei meu primeiro placo junto com Rogério Geometra. Foi uma desgraça, a falta de humanismo do produtor foi muito marcante, mas foi um grande aprendizado.

Progressive Festival | “A minha arte é desenvolvida nos estilos bomb, tag, wildstyle, arte visionária, geometria sagrada, tatuagem, mandala e simetria”.

Em quantos eventos já tem participado? Algum deles foi mais marcante?

R.M: Nossa, vocês fizeram eu contar…hahaha!! Foram 20 produções de festas e 32 produções de festivais. Todas foram marcantes, em todas aconteceram algo inusitado, conheço alguém novo, revejo amigos de estrada, mato saudades, falamos da vida, trocamos ideias e curtimos a produção como um todo.

Mundo de Oz 2018  Fotografias: Bruno Camagro Coletiva.a.mente.

Tem alguma fonte de inspiração específica?

Busco muita referência fora de festas. Sou apaixonado por tatuagem, graffiti, arte digital, arte visionária, arquitetura, povos primitivos, culturas tribais, geometria sagrada, street art, muralismo, meus amigos e minha família.

Predomina alguma técnica em particular? Qual? Como ela é?

No meu trabalho predomina o corte em madeira MDF, criando uma sobreposição das peças todas. Uma por uma cortadas manualmente e pintadas com tinta spray. Utilizo stencil também para pinturas mais detalhadas nas produções com tecidos e também nas pinturas das peças em madeira, estou utilizando também string art para um toque a mais.

Pulsar Festival 2016 |  Fotografias: Mushpics Fotografia Coletiva.a.mente.

Como começa um novo trabalho?

Olha, não sei quem é mais louco! se eu por mostrar os projetos para a produção ou os eles que aceitam hahaha! E olha que os projetos inicialmente são muitos simples, praticamente 5% do projeto final, o restante é todo free hand. Alguns produtores vem com uma ideia também, tipo uma temática, e outras vezes eu já apresento algo pessoal. As vezes tem algum produtor que quase infarta com minha demora em apresentar algo, mas no final das contas, criei além de relação profissional, uma amizade muito forte com a grande maioria, então acabo sendo indicado para outros produtores e acabo consolidando um estilo de produção próprio em que o produtor tem que ter confiança no resultado final.

Quanto tempo mais ou menos é necessário para chegar no resultado final?

Depende, quando eu vou com meu irmão de crew, onde ele tem grande participação nos projetos, Erick Citron, demoramos de 10 a 20 dias para executar um projeto de grande porte, com a produção dando toda as condições de trabalho listada desde o início com os prazos especificados. Mas já teve casos de 1 mês até 1 mês e meio até a desmontagem.

Pulsar Festival 2017 |  Fotografias: Mushpics Fotografia Lucas Caparroz.

Confira a resenha do Pulsar Festival 2017Um concerto musical psicodélico alienígena” por Bianca Motta.

O que mudou ao longo do trajeto?

Muita coisa mudou, principalmente nos eventos as condições de trabalho, no profissionalismo pessoal e das equipes de montagem e decoração, isso demostra seriedade em alguns eventos. O Brasil é o maior mercado da música eletrônica no mundo, não temos condições ainda de fazer um big festival bem organizado, mas estamos no caminho certo, todos tem que fazer sua parte, principalmente o público, pois muitas vezes fazemos as coisas com tanto carinho e comprometimento com ele e nos deparamos com situações que fazem refletir se vale apena mesmo seguir…

Quais são os principais desafios trabalhando com decoração/bioconstrução na cena underground?

Depende do seu objetivo, não adianta você querer se colocar em uma situação extrema com pensamento da sua casa. Você tem que saber que um rolé é diferente do outro, que em cada estado é uma cultura. Tem aquele detalhe do produtor ter os pés no chão e saber seus limites, se não tem condições não faz, se não vai dar conta, não faz, pois o maior prejudicado será seu público, e é ele quem vai falar da sua festa ou festival depois para os outros.

ReveillOz 2017/2018 | Fotografias: Coletiva.a.mente.

Você acha que o trabalho de bioconstrução e decoração é justamente valorizado dentro do movimento, tanto em reconhecimento do público quanto em remuneração dos produtores?

Em reconhecimento do público não tenho dúvidas, mas o trabalho de bioconstrução não é fácil de ser realizado, olhar leigo meu, mas pelo o que eu vejo nas produções junto dos meus amigos que trabalham com isso. É um trabalho bruto e cansativo, deveria ser mais valorizado financeiramente por todo o que implica. Na parte decorativa, os núcleos com quem eu trabalho todos valorizam a arte, e por isso estou com eles.

Pulsar Festival 2017 | Fotografia: Interfaces

O que espera para o futuro do psytrance brasileiro?

Espero produções sempre evoluindo, tanto em questões estruturais, logísticas e tudo que envolva o evento. Espero um público mais consciente principalmente nas festas. E o resto deixa fluir.

Alguma meta ou sonho profissional em particular?

Minha meta é ainda fazer um tour por ai, por onde a vida me abrir portas, e pintar alguns murais pelas ruas, porque acredito que não tem lugar melhor de vivenciar a vida como ela é, as pessoas não mudam suas rotinas para se deparar com uma obra de arte, a arte esta ali para elas no seu dia a dia. Me imagino morando em uma cidade pequena durante um tempo e pintar toda ela, fazer exposições de arte… tatuar está dentro dos meus planos também, mas antes disso gastar muita lata de spray por ai!

Fotografia: Coletiva.a.mente.

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