Em meio a um contexto histórico de transgressão, quebra de paradigmas, expansão da consciência, recriação e libertação, juntamente com o movimento Hippie, o Flower Power e o Wood Stock da década de 60, nasceu a Biodança.
Rolando Toro Araneda, criador da Biodança, um chileno autodidata de alma-corpo livre, artista, psicólogo, antropólogo, sociólogo, professor e estudioso do desenvolvimento humano, dentre outras virtudes, realizava experimentos no hospital psiquiátrico em que trabalhava para aumentar a qualidade de vida dos doentes mentais.
Em suas experiências utilizava a música e a dança enquanto instrumentos de humanização da medicina e avaliava os resultados. Tais estímulos geraram respostas neurovegetativas (relativas ao controle das funções básicas da vida como circulação do sangue e respiração) que indicavam uma ação harmonizadora a nível visceral, influenciando o sistema nervoso simpático (reações de luta e fuga) e parassimpático (reações de relaxamento), bem como afetando positivamente a região límbico-hipotalâmica do cérebro (área responsável, entre outras coisas, pelas nossas emoções e comportamento).
Assim, ele percebeu que determinadas práticas “estimulavam emoções específicas que produziam efeitos altamente significativos sobre a percepção de si mesmo e do próprio estilo de comunicação afetiva com as outras pessoas”. (Toro, 2002: 10).
Além disso, observou que os seus pacientes podiam, inclusive, entrar em transe durante as sessões. Certa vez um de seus pacientes permaneceu em transe por dois dias. Tal episódio alarmou os demais profissionais do hospital, que queriam que ele encerrasse sua pesquisa, mas, para Rolando, ela havia apenas começado: foi aí que percebeu o potencial do que estava desenvolvendo e o quão útil isso poderia ser não só para os doentes mentais, mas para todos nós!
Rolando e o Modelo Teórico da Biodança.
Rolando não era um cientista comum, era um homem intenso, apaixonado pela vida. Não se limitava a computar dados, se envolvia com seu estudo porque nele acreditava.
Estudou a fundo a doença do mundo, as mazelas da nossa sociedade que produz humanos doentes – os enfermos da civilização, como ele chamava – e compreendeu que a forma mais eficiente de lidar com a sombra é através da ótica da luz, do estímulo do saudável em nós, do contato com a essência simples e grandiosa de pura vida que nos habita.
“A base conceitual da Biodança provém de uma meditação sobre a vida, ou talvez do
desespero, do desejo de renascer de nossos gestos despedaçados, de nossa vazia e estéril estrutura de repressão. Poderíamos dizer com certeza: da nostalgia do amor. Mais que uma ciência é uma poética do encontro humano, uma nova sensibilidade frente à existência. ’’ – Rolando Toro
Rolando não só bebeu de várias fontes do conhecimento, mas nelas mergulhou, pois buscava vivenciar profundamente o seu trabalho científico, acadêmico e artístico, assim como as experiências místicas não religiosas, inclusive com LSD.
Amigo de Albert Hoffman, realizou diversas pesquisas com a utilização do ácido, chegando a criar, no Chile, a Escola Lisérgica da Pintura.
Murilo Ganesh
Por isso a Biodança é muito mais que um conjunto de músicas e exercícios catalogados (são mais de 5mil músicas e exercícios!) sistematizados de forma específica, é uma verdadeira vivência de Transculturação!
Assim como a experiência de imersão em um festival de Trance também é, pois dentro dele nos deparamos com uma realidade paralela totalmente diferente da que estamos acostumados na sociedade em que vivemos.
Transculturação é um fenômeno de transformação cultural que resulta do contato entre duas culturas distintas e que tem o poder de romper padrões culturais preexistentes (seja em indivíduos ou povos) permitindo que novos paradigmas e diretrizes surjam.
Isso é muito importante, pois nos mostra que outras formas de ser e estar no mundo são
possíveis. Mas o fato é que muitas vezes subestimamos esse aprendizado, não acreditamos verdadeiramente nele, achamos que é algo utópico, apenas uma viagem. Ao final dos festivais não é raro escutar, inclusive, que iremos voltar para a “vida real’’, quando, na verdade, nós é quem criamos a realidade e damos vida a ela.
“Eu tive que envelhecer para dar-me conta que não havia outro caminho. Percorri muitos outros. Agora eu ofereço a vocês, de todo coração, o caminho que descobri. Experimentem. Descubram a harmonia dentro de vocês. Assumam o amor que vocês têm.” – Rolando Toro
http://cronicasapocrifas.blogspot.com.br/2009/06/entrevista-rolando-toro.html
http://biodanca.blogspot.com.br/2007/05/biodana-abordagem-de-facilitao-do.html
Leia outras publicações da nossa coluna BioTrance:
* Para saber mais sobre práticas de Biodança entre em contato com nossa colunista Karla Amadei, facilitadora em formação e idealizadora da Organic Goa.
Mais informação sobre Biodança:
http://www.cdh-centrodedesenvolvimentohumano.com/
http://www.universidadebiocentrica.com.br/