~ Uma análise do Tarot ~
Continuando a nossa Jornada do Louco (…)
Nosso louco não consegue ficar parado, e mesmo que a postura do Imperador tenha lhe dado um imenso poder pessoal, a evolução continua. Agora ele conta com a inteligência do Mago, a intuição da Sacerdotisa, a criatividade da Imperatriz e a vontade do Imperador e somando tudo isso a sua essência, está apto a seguir todo e qualquer caminho. Então ele se transforma novamente, agora ele é: O Papa.
Analisando o Arcano:
O Papa (também conhecido pelo nome de Sumo Sacerdote, ou Hierofante) é a carta número cinco (V) dos Arcanos Maiores do Tarot. É aquele que conhece todos os caminhos e sabe as suas implicações. Na imagem da carta ele aparece trajado com as vestes típicas de sua posição. Em uma de suas mãos O Papa possui um cetro, maior que do Imperador, para afigurar não só o seu poder, mas a inteligência transformada em sabedoria através da introspecção. Vemos também dois monges que representam o bem e o mal. Em algumas cartas as figuras dos monges foram substituídas pela imagem de um casal, uma vez que essa carta também rege todas as comunhões, sejam elas de relacionamentos afetivos, quanto de sociedades profissionais.
O Papa é o revelador do conhecimento sagrado. É comum aparecerem chaves na imagem das cartas, pois assim como a Igreja, ele possui as “Chaves do Reino”. Ele tem os mapas e ferramentas para ajudá-lo a encontrar o seu caminho; os mitos, lendas e canções que possuem pistas para como viver a vida ao máximo.
O poder do Hierofante (ou Papa) é como o do Xamã, ou aquele velho religioso que você pode ligar quando precisa de uma orientação. Ele é o guia, o que sabe as tradições, regras e rituais. Uma espécie de guru, que como homem já chegou ao topo e agora – mais sábio – aparece na posição de quem pode iluminar também o caminho dos outros.
Obviamente, Ele também tem seus desafios e sombras, O Papa em seu lado mais obscuro, traz a figura do chefe sentencioso; do metafísico dogmático; do moralista estreito, rígido, prisioneiro das formalidades; do professor autoritário; do teórico limitado; do pregador da “boca para fora”.
O Papa é mestre no uso das palavras, da retidão, e também das exigências que essa posição impõe. Ele ensina o que é certo e errado dentro dos conceitos do grupo ao qual pertence.
Antes de qualquer ação, mesmo os mais poderosos, hão de buscar sua benção. Pois ele é um formador de opinião, ele rege as leis divinas que unem e fortalecem o grupo.
O poder aqui representado vem não só da experiência, ou de ser conhecido por muitos. O Papa está além do político, ele não espera um voto de confiança, ele é a conduta correta, o que revela o melhor caminho, o que define as normas e os rituais que eventualmente as acompanham.
Pessoas que possuem esse arquétipo avaliam as questões com justiça e parcimônia, tendem a ser bons negociadores. São mestres em conciliar as partes quando há algum tipo de discórdia, ou analisar os termos para uma união. Sendo assim, mesmo que entre em contato com o mundo material, suas mãos continuarão sempre limpas, apesar de todas as impurezas deste mundo terreno. Pois não é mais (só) a matéria que lhe dá poder… é a crença.
O Trance e o Arcano V (O Papa):
Há muitos que reconhecem o Trance como uma esfera sacra. Que seguem as regras como um religioso faria e aos festivais como cultos sagrados.
Seguindo por essa linha, a figura do Papa representaria um peculiar líder espiritual. Normalmente, ele teria um longo histórico no Trance, carregaria consigo não só carisma e respeito, mas a sabedoria necessária para pôr em palavras os mais rígidos valores, as tradições, os rituais e passá-los adiante.
Se houvesse necessidade de acordos, casamentos ou sociedades, com certeza, antes de mais nada, O Papa seria consultado.
Através de seu conhecimento compartilhado, muitos poderiam seguir seus ensinamentos e idealizar a união do grupo como uma instituição ou organização, criando inclusive uma linha hierárquica, baseada na crença e nos ideais do Trance, por exemplo.
O Papa é capaz de administrar o Trance como uma filosofia e evocar os níveis mais altos de consciência. Buscando um sentido (até mesmo Cósmico) para justificar o “poder do Trance” em uma visão lógica e universal.
Esse personagem não estaria ali só pela diversão, fama ou dinheiro, já que ele é “o que tem e dá disciplina”. Aquele que conta a história e as razões pelos quais o grupo deve existir, estimula a crença e a participação efetiva dos “seguidores” e que mostra a existência da divindade dentro de cada ser e de cada ação dos envolvidos.
Ele estaria disponível para guiar os mais afoitos para a cena, de educar os interessados, de desenvolver até mesmo, rituais de iniciação, simplesmente porque O Papa crê nisso.
Sua face quase imutável costuma trazer um sorriso enigmático, digno dos seres mais iluminados. Mas, seus padrões são rígidos e suas verdades incontestáveis. Sua imagem e posição é de certa forma, intimidadora. Encaminhando com maestria os novos a crença e os mais antigos a devoção.
Podemos ver nesse Arcano a figura do Mestre, do Xamã, do Sumo Sacerdote, aquele que em palavras mantem as tradições e as perpetua em ações; para que a “tribo” nunca esqueça os valores primordiais e necessários para sua existência.
Sim, com a presença desse Arcano, parece haver um certo fanatismo no ar… Mas enfim, o Trance também tem os seus priorados. 😉
O Papa é aquele que dá um sentido devocional ao festival, aos encontros, as longas viagens, a música, a dança e o transe. Pois na esfera mística, sempre existirá uma razão, uma busca: A transmutação.
Por fim, nosso Louco sintetizando os dotes essenciais para sua longa caminhada, sente a necessidade de completar-se. Se hoje ele é um sábio na sua verdade, experiência e sofrimento…ele traz consigo a percepção de que, na realidade, ele nada sabe. E, assim como o Cosmos se fez do Nada, a jornada do nosso Louco deve continuar…
* Encontrei essa poesia de Cristina Guedes (da exposição: A Casa do Mundo no Reino dos Arcanos – João Pessoa/PB, 2011) e achei interessante compartilhar com vocês:
~ A face invisível do homem (unificação) ~
“Como sempre acontece
chapéu de cardeal,
não faz mal,
mas obedece.
Pode ser dotado do maná,
conexão com a divindade,
enxerto, impulso e céu,
a face invisível da vontade,
adição, caráter e desvão,
repouso dos consulentes e autoridades.
Entre código e autenticidade
o Papa segura a chave,
E o poder supremo lhe dá
o cetro da infalibilidade,
Mas ele segura o cajado,
desfigura o número esférico e o infinito,
verte sua paixão na lição,
do animus ser transferido para o cinco,
E se a iniciação for adequada,
cura o efeito pela causa,
na quinta-essência do pão,
eleva um onze na entrada,
Quero misturá-lo em mim,
cinco dedos em cada mão,
e só desenvolver o que preciso,
essa necessidade de iluminação.”